sexta-feira, 16 de julho de 2010

De Tucuruí a Belo Monte, meio século de um modelo energético etnocida, depredador e alienante, por Coord. Estadual do MTL-PA

                      MOVIMENTO TERRA TRABALHO E LIBERDADE – MTL

DE TUCURUÍ À BELO MONTE, MEIO SÉCULO DE UM MODELO ENERGÉTICO ETNOCIDA, DEPREDADOR E ALIENANTE



            Segundo estudos da FAO – Organização para Agricultura e Alimentação/ONU, mais de 1/6 da população mundial, cerca de 1.000.000.000 (um bilhão) dos trabalhadores e trabalhadoras passam fome diariamente, sofrendo com a subnutrição ou a desnutrição aguda. Só de brasileiros são mais de 40.000.000 milhões entre homens, mulheres, idosos e crianças que não tem se quer comida para sobreviver.

                                ¿ MAS PORQUE TANTA GENTE PASSA FOME?

                A imprensa e boa parte da academia e da igreja escondem e/ou omitem do povo que a concentração de renda, terras, capitais, conhecimento e poder nas mãos de um número ínfimo de empresas e pessoas é responsável diretamente por sua fome. A transferência direta de dinheiro expropriado do povo através de uma das cargas tributarias mais pesadas e regressivas do planeta - que arrancam dos setores mais empobrecidos até 50% de seus rendimentos compulsoriamente; o regime de expropriação de salários e rendimentos futuros através das consignações em folha de pagamento, inclusive de aposentados - inaugurando no Brasil o capitalismo sem riscos - além da corrupção (in)direta institucionalizada por grande parte do alto escalão de prefeituras, tribunais, Casernas e governos que, a luz do dia e sob escolta policial, diariamente dilapidam o patrimônio público para satisfazer mesquinhos interesses pessoais, beneficiando determinadas empresas, grupos e indivíduos.

                 A alienação de milhões trabalhadores e trabalhadoras através de condições humilhantes de trabalho, incluindo aí a mão de obra escravizada e infantil (por multinacionais como Pilip Morris, Votorantin e Coca Cola), e a política de esmagamento geral dos salários no setor público e privado. Todas essas formas combinadas e simultâneas de exploração centralizam capitais gigantescos nas mãos de cada vez menos pessoas e empresas. No Brasil, pouco mais de 131 mil pessoas possuem pelo menos U$ 1 milhão de dólares, em uma das mais selvagens e desiguais concentrações de renda do mundo.

                Essas empresas e esses milionários são os principais financiadores das campanhas de Dilma Roself - PT, José Serra – PSDB e Maria Silva – PV, além de milhares de candidat@s que, uma vez mais, serão (re)eleit@s em 2010 para fazer leis e governar a mando de quem? Em nome de quais interesses?

                 Nazareno Tourinho, caboclo paraense e poeta militante em “Juízo de Valor”, do livro “Versos para Pobres e Oprimidos” com profunda consciência de classe e inquietação revolucionária assevera:

                                                                   Esta sentença legitima
Eu lavro bem humorado:
Todo pobre é uma vitima
E todo rico é culpado.

De alguma coisa culpado
Todo rido sempre é
Ainda que tenha herdado
Seu dinheiro e sua fé

Mesmo não tendo roubado
Para assim enriquecer
O rico é sempre culpado
Só por ser rico querer.

Pois a lei da vida é séria
E este mundo tinhoso
Existe tanta miséria
Que ser rico é criminoso.

             O MOVIMENTO TERRA TRABALHO E LIBERDADE – MTL repudia e combate a política energética, econômico-social imposta pelo chamado “Consenso de Washington” e administrado subservientemente por todos os presidentes de Sarney a Lula, impondo desde a redemocratização conservadora em 1988 a mesma plataforma programática dos governos militares: cambio flutuante; metas de inflação; arrocho salarial; metas de superávit primário para pagamento religioso de juros da ilegítima dívida externa; privatização dos serviços e bens públicos, incluindo redes hospitalares; o sistema de telecomunicações; os solos e subsolos da Amazônia e o pré-sal por um lado e, por outro, condenando milhões aos precipícios da favelização; do desemprego; do trafico e da criminalização da pobreza e dos movimentos sociais combativos; impondo a ferro e fogo uma profunda e silenciada faxina étnica que tem assassinado milhares de trabalhadores do campo e da cidade, sobretudo afro-descendentes jovens, isso quando não segregados em superlotadas prisões-políticas-para-pobres de todo Brasil.

            Nossos povos tradicionais amazônicos têm sofrido com os modelos entreguistas de “desenvolvimento e progresso” dos “doures linhões da vida”. A devastação de ecossistemas inteiros, o etnocídio e a perda de territórios e valores culturais tradicionais de quilombolas, indígenas e ribeirinhos na Amazônia, além de criar bolsões de miséria e falização das cidades vizinhas aos “grandes projetos” como as UHE de Tucuruí e Belo Monte, são as conseqüências mais sentidas pelos ribeirinhos desde a implantação desse modelo da morte e da exclusão em nossa Amazônia.

             Enquanto o governo subsidia a energia elétrica para ALBRAS e Vale (entre outras multinacionais) exploraram na Amazônia sua população e riquezas naturais, por capitalistas nacionais e estrangeiros, sem qualquer controle real sobre remessas de lucros e divisas, as mesmas insistem cinicamente em esconder do povo, com o apoio da grande mídia burguesa, as centenas de mortes e mutilações de trabalhadores dessas transnacionais, como também tentam esconder o rastro de empobrecimento regional e a contaminação dos solos e lençóis freáticos amazônidas, grande parte da população simplesmente não tem direto a energia elétrica, inclusive povos indígenas como os ASURINIS e povoados inteiros de toda região tocantim, mesmo 30 anos após a instalação da usina.

              O MOVIMENTO TERRA TRABALHO E LIBERDADE – MTL se solidariza com as lideranças comunitárias, associações de mulheres e tribos indígenas que acamparam de 27/junho a 16/07 no escritório sede da Rede CELPA em Tucuruí, por ter sido acordada um audiência publica para o dia 20/julho também em Tucuruí.

               Essa ocupação (como outras iniciativas semelhantes) é legitima e merece o apoio de todos e todas que sofrem com os altos custos da energia elétrica, com as conseqüências dessa matriz política-economica-energética e os péssimos serviços das prestadoras privatizadas e desreguladas. A ocupação da CELPA foi o último recurso para provocar o diálogo das Comunidades com o governo federal, após décadas de portas fechadas, desculpas e mentiras. Sem nenhuma solução concreta para as milhares de famílias que sem ter como, pagam mais de 500% mais caro pela mesma energia que Lula subsidiada para as multinacionais.

                A presença do Ministro de Furnas e Energia em Tucuruí para garantia de uma “mesa de negociações” séria é fundamental para acabarmos com este impasse. Não aceitaremos menos que isto como uma pequena demonstração do mínimo de respeito às milhares de famílias tocantinas exploradas, empobrecidas, sem luz para ligar (e manter ligada) uma única geladeira, muito menos para desenvolver atividades produtivas que garantam sustentabilidade político-econômica e ambiental, para que estas famílias se libertem do julgo multissecular de coronéis escravocratas e do assistencialismo-fisiologismo exauriu de “doutores linhões” de ontem e de hoje.

PAUTA POLÍTICA & BANDEIRAS DE LUTA:

1. Redução e congelamento imediato das tarifas, taxas e serviços energéticos para o povo empobrecido;

2. Suspensão das cobranças para trabalhadores e trabalhadoras sem emprego e de baixa renda;

3. NÃO À UHE DE BELO MONTE. BASTA DE CHACINAS E DESTRUIÇÃO DA NATUREZA. POR UMA MATRIZ ENERGÉTICA VERDADEIRAMENTE LIMPA!

4. Instalação de grupos-geradores fotoelétricos para garantia de autonomia energética de comunidades isoladas, acampamentos e assentamentos, povoados indígenas e quilombolas;

5. Repovoamento dos rios e matas amazônicos, visando à sobrevivência dos povos que milenarmente habitam equilibradamente as regiões atingidas pelos devastadores impactos sócio-criminais contra a natureza;

6. Nosso povo tem direito à autonomia alimentar! Subsidio para agricultura familiar garantir alimentos orgânicos para todos e todas. Basta de monocultura ostensiva, latifúndio e fome!

7. Controle total sobre as remessas de dinheiro para o exterior das multinacionais e empresas dirigidas por capital estrangeiro (ainda que “brasileiras”) instaladas na Amazônia e no Brasil!

8. Fim das mortes e acidentes violentos de trabalhadores e trabalhadoras! Qualidade total para as condições de trabalho das cadeias produtivas diretamente vinculadas às multinacionais instaladas na Amazônia, incluindo terceirizados, quaterizados e precarizados em geral!

9. Contra a criminalização da pobreza, dos movimentos sociais combativos; o boicote da imprensa burguesa, a judicialização da política e a politização da justiça! Pela democracia direta do povo!

10. Por uma Amazônia livre dos transgênicos, do latifúndio e do trabalho escravo. Por uma Amazônia amazônica com terra, trabalho e liberdade!

Amazônia paraense, 20 de julho de 2010.

COORDENAÇÃO ESTADUAL DO MOVIMENTO TERRA TRABALHO E LIBERDADE - PA

www.mtl.org.br
terratrabalhoeliberdade.blogspot.com
mtlpara@ gmail.com

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