quarta-feira, 14 de julho de 2010

¿ACÚMULO PROLONGADO DE FORÇAS OU DEGENERAÇÃO ANUNCIADA?

Artigo publicado após tomar conhecimento de que a Juventude da APS-AP havia deliberado pela necessidade de coligar com o PTB para salvar o PSOL e a própria APS do gueto.

Especial para os camaradas Maykom e Valdir, cujos corações revolucionários merecem outros caminhos.

¿ACÚMULO PROLONGADO DE FORÇAS OU DEGENERAÇÃO ANUNCIADA?


          A concepção de mundo enraizada no discurso de que a disputa nos marcos legais do Estado-etnocida-burguês, por estruturas institucionais (mandatos eletivos), tem o potencial de mudar a vida do povo, levar a um ascenso de massas e a revolução socialista, muito em voga no atual cenário eleitoral latino-americano, ou é cínica, degenerada e protistuída e, portanto, precisa ser derrotada, ou, se é sincera, esconde do povo um fato irrefutável, de que a luta de classes enquanto arena maior da história, não prescindirá das guerras e o uso da violência revolucionária, seja através de ocupações, expropriações ou mesmo atos de guerrilha. Sob pena de sermos exterminados pelas forças do capital, o que assistimos cotidianamente tantos no centro da luta de classes, como nas favelas e savanas de além amar.

          As organizações que defendem tais concepções em nosso partido, via de regra estão profundamente degeneradas, não têm demonstrado capacidade de construir instrumentos de luta enraizado nos principais enfrentamentos do campo e da cidade, dos movimentos vivos, com criticidade construída na vivência revolucionária do internacionalismo classista, do duplo poder e a negação do julgo institucional, da democracia direta, do controle sob os meios de produção (ou frações desses meios), agindo com coerência suficiente para tomar em suas próprias mãos a tarefa educativa de expropriar o capital com ocupações ururbanas, urbanas e rurais - entre outras ações - quebrando no imaginário popular o mito moderno de que a propriedade (pública&privada) é sagrada, que o Estado-burguês é indestrutível.

          A construção de uma tática recuada (política e programaticamente), entre as organizações revolucionárias, em qualquer contexto histórico, só se justificaria quando o “passo à trás” contribuísse decisivamente para acumularmos forças, para amadurecermos experiências, para darmos um salto político-programático e organizativo qualitativo, no sentido de nossa estratégia. A construção de uma sociedade sem classes (e conseqüentemente sem Estado), livre da exploração e da opressão dos seres humanos uns pelos outros.

          A ilusão de que os mandatos e a institucionalidade podem mudar radicalmente a vida do povo, generalizada no senso comum, mas também reproduzida com intensidade nos meios mais respeitados da “esquerda revolucionaria” latinoamericana e brasileira não é um fenômeno recente, sendo um divisor de águas entre dois caminhos bastante conhecidos.

          O exemplo recorrente que invoca Allende, Chaves, Evo e outros, por aqueles que dizem que amam o povo, mas não lutam (não matam e morrem) em suas reais trincheiras, geralmente, não vêm acompanhados de uma análise séria quanto à complexa rede de movimentos sociais (clandestinos e institucionalizados), centrais obreras, sistemas de comunicação popular, etc, etc, inerentes a tais exemplos.

         Como quem (sem dizer), quer fazer crer que apenas as disputas reformistas, na arena e nos marcos da democracia-burguesa, vão educar o povo para todas as tarefas necessárias a tomada de Poder e a construção de um novo Bloco Histórico.

         Caindo, uma vez mais, no abismo da 3ª via, da democracia-burguesa como valor universal, supra-histórico, imutável e intransponível na vida real da luta de classes e aí, tais correntes e lideranças, acabam vivendo e morrendo para construírem mandatos que serão vitais para conquista de ainda mais mandatos (fortalecendo todas as estruturas do Estado), que serão importantes, por sua vez, para acumular (prolongadamente e com calma...) forças, etc, para usar nos discursos sobre revolução em suas confrarias intelectuais e dias de festa.

         O desfecho do CONCLAT e os debates sobre tática eleitoral nas enseadas de PSTU, PSOL e PCB estão umbilicalmente ligados a este debate. Podemos nos enganar, mas não temos o direito de nos iludirmos.

          Nesse contexto, o caso do Amapá salta aos olhos, pela riqueza de possibilidades e complexidade.

          A conjuntura Tucuju deu mais que um giro nos últimos cinco anos, rodopiou! Da frente de esquerda de 2006 (que inaugurou o PSOL enquanto alternativa de esquerda no AP e reelegeu o mandato de vereador com Clécio Luis/APS); passando pela coligação democrático-popular com PSB dos Capiberibe em 2008 (que quase venceu a truculência de Sarney, Goes e Dalva); chegando ao cenário 2010 em que o PSB se agarrou ao PT, e o PTB, com aval do PCB acenam ao PSOL uma coligação tática e pragmática. Mas em nome de quem?

             A despeito dos textos bem coesionados e até apaixonados do jornal da INTERSINDICAL para o CONCLAT, seus sindicatos no Pará, para citar o exemplo mais próximo, têm sido incapazes de construir relações concretas de solidariedade de classes, e de operar a política que preconizam em seus textos. Usam-nos – o movimento popular e juvenil das frentes de massa – apenas como volume político para passeatas e atos públicos, sem ter a coerência, como na recente greve do SINTEPP-PA, divulgada amplamente como vitoriosa, mas que iniciou e terminou sem incluir em sua pauta reivindicatória um único elemento externo às demandas economicistas da categoria dos educadores. E a juventude? O movimento popular?

              O mandato – do senado - da APS no Pará tem servido, sobretudo, como têm sido historicamente, para que esta corrente se auto-construa, para com isso terem melhores condições de reproduzirem a si mesmos nas estruturas burguesas marajoaras, nada mais, o balanço de mais de 20 (vinte) anos de mandatos no Pará, incluindo a gestão de duas prefeituras (oito anos em Belém e quatro em Xinguara), e de mais de 15 (quinze) ano no Amapá, dizem muito a esse respeito.

          É nesse contexto que a disputa eleitoral de 2010 aprofundará a depuração dentro do partido e na sociedade, os mandatos eleitos às espessas de coligações imundas, indefensáveis e capituladoras (já que se trata disto), seus dirigentes e organizações, serão testados pela concretude dialética dos fatos históricos. Saberemos em breve, pela analise infalível da práxis, a que(m) servirá os mandatos futuros, fruto de coligações escandalosas, se para encarniçar ainda mais as disputas hegemonistas intestinais no PSOL, ou se para criar, fortalecer e manter, ao menos desta vez, ferramentas de contra-poder popular, que sirvam para educar o povo no combate socialista e revolucionário.

       É preciso que seja dito, que se a APS do Amapá se encontra num profundo isolamento (junto com o PSOL), se a sobrevivência de nosso partido e dessa organização depende exclusivamente da garantia de mandatos, independente da política de alianças e do conteúdo programático, é porque seus mandatos não serviram para que a APS construísse, consolidasse e mantivesse uma política conseqüente de fortalecimento dos movimentos sociais com enraizamento de massas.

       Mas até quando? Quantas gerações de juventude serão desperdiçadas nos corredores enfadonhos de câmaras e gabinetes?
  
Cametá, margem esquerda do rio Tocantins, Amazônia paraense, 07 de julho de 2010.

 
 José Pessoa Lobo
 Direção Estadual do MTL – PA
 Poder Popular – PSOL


 osb: as charges foram copiadas de rebe
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