quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Proclamação de Independência, Por José Pessoa,  



Ancorei meus pensamentos mais perdidos
ao descaminho sem chão do remorso
despencando labirintos verticais

Senti-me apodrecendo sob o sol
como esgoto estático ou cadáver

dentro do crânio rugiam dizeres diversos
uns conspirando meu fim, outros o inverso
tumultuando a agonia noturna
que consumindo minha criatura
reinventava um outro eu, meu antípoda

Um ser querente apenas de nosso extermínio
sempre com a boca cheia de cicuta e um dedo amarelado no gatilho
Essa hiena psicótica e bêbada 
fizera secretamente em mim um ninho

E de lá ela gargalhava e mordia
Rasgando tecidos emocionais e rins
Buscando fuga!

E fugiu!!!

Arrastando-me fantoche e incrédulo
arranhando paredes e chãos de concreto
Drenando a luz dos meus olhos e a voz
Buraco negro, aprisionantes nós

Dois dias, um mês ou ano, tempo de fel e fogo quase nunca ameno
apartando carne e alma
Com o golpe bárbaro de machado 
ferindo muito sem matar

Com o pútrido veneno
Escorrido dos suspiros d´minha inquietude
Arrancando mais que tudo e ainda boa parte de minha juventude

Hoje sou eu quem a parasita
Como um câncer metastático e maligno

Sou eu deveras, como manada de rinocerontes enfurecidos
Devorando, pisoteando, destruindo
a anti-matéria de min feita de arrependimento, 
                                            torpor, negação e dúvida
sinto porem , que já paguei minha dívida
incendiei antigos portos, abandonando aquela ancora monótona
e a possibilidade de finais fatídicos

reabsorvi esse demônio lírico
reservando-lhe somente sua cela típica
de onde ele me observa, entre lágrimas,
como um sorrido enigmático
e onde posso vê-lo afônico
com meu semblante lítico, 
irradiando-me guerreiro impávido!



Pará/Marajó – 07/Set-2014

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