Proclamação de Independência, Por José Pessoa,
Ancorei meus pensamentos mais perdidos
ao descaminho sem chão do remorso
despencando labirintos verticais
Senti-me apodrecendo sob o sol
como esgoto estático ou cadáver
dentro do crânio rugiam dizeres diversos
uns conspirando meu fim, outros o inverso
tumultuando a agonia noturna
que consumindo minha criatura
reinventava um outro eu, meu antípoda
Um ser querente apenas de nosso extermínio
sempre com a boca cheia de cicuta e um dedo amarelado no
gatilho
Essa hiena psicótica e bêbada
fizera secretamente em mim um
ninho
E de lá ela gargalhava e mordia
Rasgando tecidos emocionais e rins
Buscando fuga!
E fugiu!!!
arranhando paredes e chãos de concreto
Drenando a luz dos meus olhos e a voz
Buraco negro, aprisionantes nós
Dois dias, um mês ou ano, tempo de fel e fogo quase nunca
ameno
apartando carne e alma
Com o golpe bárbaro de machado
ferindo muito sem matar
Com o pútrido veneno
Escorrido dos suspiros d´minha inquietude
Arrancando mais que tudo e ainda boa parte de minha
juventude
Hoje sou eu quem a parasita
Como um câncer metastático e maligno
Sou eu deveras, como manada de rinocerontes enfurecidos
Devorando, pisoteando, destruindo
a anti-matéria de min feita de arrependimento,
torpor,
negação e dúvida
sinto porem , que já paguei minha dívida
e a possibilidade de finais fatídicos
reabsorvi esse demônio lírico
reservando-lhe somente sua cela típica
de onde ele me observa, entre lágrimas,
como um sorrido enigmático
e onde posso vê-lo afônico
com meu semblante lítico,
irradiando-me guerreiro impávido!
Pará/Marajó – 07/Set-2014
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