CAMETÁ OU SODOMA E GOMORRA?

CAMETÁ OU SODOMA E GOMORRA? **

No último domingo 14/Agosto os jornais “O Liberal” e “Amazônia” publicaram reportagens sobre Cametá (transcrita na íntegra abaixo), não como “Pérola Tocantina”, mas ao contrário e mais uma vez, pelas mazelas causadas por sucessivos desgovernos manchados pela corrupção e pelo descompromisso com Cametá e os cametaenses.

Dessa vez não foi à malária não, mas a prostituição infanto-juvenil, a elevação dos crimes sexuais, gravidez precoce e a crescente onda de tráfico e violência que a cada dia aterroriza mais nosso povo.

Apesar de a reportagem ter “qualificado” os principais co-aliciadores desse comércio de vidas e, portanto, os principais responsáveis pelo crescimento desses males sociais típicos de terceiro mundo, como sendo os “patrões” isto é, geralmente, como denuncia a reportagem, são “homes de situação financeira estável, de classe média e alta, que em alguns casos têm certa influência na cidade. Além de políticos, empresários e comerciantes (...)”, a redação poupou, novamente, os gestores municipais, estaduais e federais, afinal, mesmo tendo o Município maior responsabilidade na execução de políticas públicas voltadas para a juventude em suas múltiplas facetas e necessidades (educação, saúde, cultura, lazer, esporte, emprego...), o Estado do Pará e a União também têm obrigação de manter e construir uma rede de benefícios que constituam de fato uma malha social, dando aos jovens cametaenses outras opções de ser e viver, de realizar suas potencialidades e de se desenvolver enquanto sujeito de sua própria historia, da historia de seu lugar e de sua gente.

Olha o que diz o artigo 227 da Constituição da República do Brasil:

                                   “É dever da família, da sociedade e do Estado

                        assegurar à criança e ao adolescente, o direito à vida,

à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. (Artigo 227 caput da Constituição Federal de 1988)

Mas como nossos jovens vão trilhar um caminho distante das farras, drogas e prostituição? Como?

Com o “Centro de Cultura” entregue às baratas há mais de qu15ze anos?

Com a “Trilha da Juventude”, lugar onde diariamente podemos ver jovens consumindo drogas, sendo aliciados e prostituídos e, eventualmente até sendo assassinados? Um antigo ponto de referência de nossa juventude, ironicamente incrustada entre escolas, o Judiciário e o estádio municipal, encontra-se abandonada desde a gestão Miltom Peres, há mais de 15 anos. João Medeiros-PMDB (1992 - 1996), Emmanel Cunha-PR (1996 - 2000), Quaresma-PT (2000 - 2004), Valdoli-DEM (2004 - 2008) e outra gestão Valdoli-DEM (2008 - 2012), TODOS ELES ABANDONARAM A TRILHA E A JUVENTUDE CAMETAENSE!

Segundo o Ministério da Educação – MEC, o Índice de Desenvolvimento da Educação de Base – IDEB, (que pode ser consultado no sitio: www.sistemasideb.inep.gov.br) revelaram que no que tange o ensino público o Pará em 2009 ficou com média 3,0 abaixo da média nacional no mesmo ano, que ficou em 3,6.

Já as escolas públicas municipais de Cametá, muito abaixo da média nacional, desde 2007 quando o índice foi criado, até o último senso em 2009, manteve em quase sua totalidade, índices entre 0,8 e 2,5. Veja o quadro abaixo, escola por escola:

IDBE DAS ESCOLAS PÚBLICA MUNICIPAIS DE CAMETÁ EM 2009

E M E F ACHILLES RANIERI ____________ 2.1

E M E F CORONEL RAIMUNDO LEAO ____________  2.9

E M E F D ROMUALDO DE SEIXAS  ____________  3.3

E M E F DE AJARAI ____________  0.8

E M E F DE AJO ____________ 2.3

E M E F DE ARICURA ____________  2.0

E M E F NOSSA SENHORA DO CARMO ____________  1.8

E M E F NOSSA SENHORA DO CARMO ____________  1.9

E M E F PRESIDENTE EURICO G DUTRA ____________  2.4

E M E F PRO JOAO GIOCA DE MORAES ____________  2.3

E M E F PROF ELIZIA MALVINA MUNIZ ____________  2.6

E M E F PROF JOAO MORAES BITENCOURT ____________  2.5

E M E F PROF JOAO TEIXEIRA TAVORA ____________  2.6

E M E F PROF JOAQUIM BASTOS ____________  2.5

E M E F PROFA CELECINA BRAGA DE MELO ____________  2.7

E M E F PROFA GLICERIA GUIMARAES ____________  2.6

E M E F PROFESSOR FRANCELINO DE FREITAS ____________  1.7

E M E F PROFESSOR FULGENCIO WANZELER ____________  2.6

E M E F PROFESSOR JACINTO GARCIA ____________  1.5

E M E F PROFESSOR RAIMUNDO DA COSTA CALDAS ____________  3.5

E M E F PROFESSORA DALILA LEAO ____________  2.7

E M E F PROFESSORA DINORA TAVARES GONCALVES ____________  3.1

E M E F PROFESSORA DULCE FERREIRA PACHECO ____________  2.1

E M E F PROFESSORA FRANCISCA ARNAUD DE PINA ____________  2.4

E M E F PROFESSORA MARIA DE NAZARE PERES ____________  2.7

E M E F PROFESSORA MARIA EDUARDA GOUDINHO ____________  2.9

E M E F PROFESSORA MARIA NADIR FILGUEIRA VALENTE __________  3.4

E M E F PROFESSORA MARIA VALDA BRAGA VALENTE ____________  3.1

E M E F PROFESSORA NOEMIA DA SILVA MARTINS ____________  3.0

E M E F RAIMUNDA DA S BARROS ____________  2.8

E M E F RAIMUNDO CORREA CRUZ ____________  3.3

E M E F RAIMUNDO IGNACIO FERREIRA ____________  2.3

E M E F ROMAO AMERICO FILHO ____________  2.3

E M E F SANTA MARIA ____________  3.2

E M E F SANTA SANTOS ____________  3.6

E M E F SANTA TEREZINHA ____________  2.7

E M E F SAO JOAO BATISTA ____________  3.4

E M E F SODRELINO GARCIA DUARTE ____________  1.3

Não é de se estranhar tanta prostituição infanto-juvenil, consumo de drogas e gravidez precoce numa cidade onde TODOS OS VEREADORES (do PT, PSDB. DEM, PCdoB...), VOTARAM CONTRA a melhoria da qualidade de ensino em Cametá e, a mando do prefeito, votaram contra a reposição salarial de 22% para professores, conforme prévio acordo entre o SINTEPP, a categoria e a Prefeitura.

Nossos professores têm um dos piores salários do Pará e um plano de carreira péssimo. Pois bem, os vereadores por unanimidade aprovaram uma mísera reposição de 11,5%, que se quer cobre a inflação dos anos sem reajuste real.

Ou ainda, em uma cidade onde uma única escola leva mais de SETE anos para ser construída e até hoje se quer foi inaugurada, o absurdo se passa em na Vila de Belos Prazeres, Curuçambaba. Como a escola nunca foi entregue, as crianças dividem o barracão comunitário, várias turmas, a uma temperatura de mais de 40 graus!

A reportagem do grupo “Liberal” disse a verdade sobre o vertiginoso aumento de jovens viciados, na prostituição e também foi realista quando apontou que as inúmeras festas regadas a álcool favorecem o aliciamento de jovens e crianças, mas deixaram de denunciar os principais responsáveis por esse pântano social que Cametá esta se tornando, tendo sido comparada às cidades de Sodoma e Gomorra dominadas pela corrupção e prostituição, e por outro lado dá um enfoque policialesco à questão social, quase dizendo “PRECISAMOS DE MAIS POLICIAIS E MAIS CELAS”.

NOSSA JUVENTUDE CAMETAENSE ESTA SE PERDENDO, governadores, prefeitos, senadores, deputados, vereadores, todos de mãos dadas com certos comerciantes e empresários, todos na mesma ciranda, mudos e indiferentes, cúmplices e co-autores da trágica historia de vida de meninos e meninas destruídas aos 7, 8, 9 anos!

SEM PROJETOS NEM REALIZAÇÕES, esses políticos viciados de poder, ficam apenas discursando ou expedindo ofícios às autoridades “competentes”, apenas discursam seu politiquês barato e cínico!

Lembrarão de pedir voto logo mais em 2012 - COM CERTEZA – e continuarão imóveis e falantes, porém sem respostas e ações sérias para salvar, resgatar, ressuscitar Cametá com todo seu esplendor e a força de sua gente.

Muitas foram às obras já “realizadas” SÓ NA PROMESSA, como a construção do “cais” às margens do rio Caji, que banha parte da Vila de Belos Prazeres, prometida pelo então deputado federal Paulo Rocha (ficha suja do PT) . Onde foi parar os recursos de emenda parlamentar estimada em mais de R$ 300.000,00 ????!

É lastimável e revoltante. A corrupção e a incompetência de mais de uma geração de políticos alheios ao sofrimento do povo.

Desde 2006 venho denunciando o abandono em que a cidade se encontra, sem remédios e médicos; a rede de corrupção institucional-familiar encastelada nos aparelhos públicos, a prostituição, o gigantesco déficit habitacional.... A conseqüência? PERSEGUIÇÕES, INTIMIDAÇÕES, VOZ DE PRISÃO E ATÉ AMEAÇA DE MORTE!

Prática corriqueira do corolenismo ainda reinante em Cametá.

INDIGNAÇÃO!!! Quando vemos tudo isso e ainda, lembramos do assassinato brutal do jovem advogado Fabio Teles, encomendado por influente empresário-político (ZÉ MARIA do “Tecidos Cametá”), segundo investigações policiais.

A CORRUPÇÃO E O DESPREZO PELO POVO SÃO A MAIOR MARCA DE SUCESSIVOS GOVERNOS E MANDATOS HISTORICAMENTE BENEFICIADOS PELO APOIO DOS CAMETAENSES.

Muitos desses “patrões” vêem em nossas belas crianças apenas um objeto para satisfação de suas bestialidades sexuais ou ainda, como mão de obra semi-escrava do tráfico de drogas.

Já os filhos desses patrões, muito ao contrario de nossas crianças, raramente estudam ou vivem em Cametá, são mandados “pra fora”, para estudar, viajar e voltar (ou não), com condições privilegiadas para alcançar bons empregos e elevadas posições sociais.

Mas e os empregos para nossos jovens? Onde o Município, e o Estado como um todo, construíram alternativas reais para geração de emprego e renda?

Quando as potencialidades múltiplas de nossa Cidade serão aproveitadas para geração de emprego e renda para nossa gente? Onde estão industrias e/ou cooperativa de produção?

NÃO HÁ VAGAS, NEM EMPREGOS! Mas o tráfico sempre está de portas abertas a oferecer um “bico” de “avião”, “olheiro”, “boqueiro”...

Para os gloriosos gestores do passado e do presente, melhor “não mexer em time que esta ganhando”, melhor manter a máquina publica de cabide de empregos temporários para uma centena de trabalhadores, que ainda são obrigados a se sujeitas às praticas mandonistas, arbitrárias e autoritárias de seus “patrões”.

VOTO DE CABRESTO MANTÉM COVARDES NO PODER

E depois, em 2012 ainda vão ter que “retribuir” o “favor”, sendo praticamente coagidos a acompanhar os candidatos indicados pelo “patrão”. RESULTADO?

Sem educação, cultura, esporte e emprego?

Com prostituição, álcool, drogas e festas?

CASO DE POLÍCIA? Debaixo da árvores policia “colhe os frutos” do caos de abandono e corrupção que assola Cametá, mas as raízes desses males são mais profundas! Sem fórmula mágica, é necessário e urgente que medidas de curto, médio e longo prazo sejam postas em pratica imediatamente!

FAZER SUMIR DINHEIRO é prática de prefeitos de Cametá desde antigamente, fazem sumir de restaurante popular ao dinheiro da aposentadoria de dezenas de servidores municipais!

SÓ GARGANTA? Não adianta judicializar à política e transferir a responsabilidade da questão social de Cametá à polícia e ao judiciário. Como no “ato contra malária do dia 25 de julho”, que na última segunda das férias de julho “erraram ou esqueceram” o caminho das secretarias de saúde; da prefeitura, da casa do secretario de saúde, em fim.... vieram direto pro fórum!

Concordamos que a impunidade, sobretudo nos casos de crimes sexuais gera violência, mas é preciso atacar a raiz do problema, investir desde a base em nossas crianças. Pois, se não há respeito, é preciso destronar o rei e acabar com toda corte de privilégios gozados com dinheiro público, salários fantasmas, desvios e fraudes!

VAMOS DIZER BASTA A “HEREDITARIEDADE” DESSES POLÍTICOS SUJOS E COVARDES!

GRITO DOS EXCLUÍDOS, 7 DE SETEMBRO! É importante e válida toda forma de contestação contra essa desordem e desgovernos, inclusive, o chamado virtual do Parente (BLOGDOPARENTE.BLOGSPOT.COM), mas se conhecemos a realidade de Cametá e queremos transformá-la, É PRECISO DIZER A VERDADE NAS RUAS, mobilizar as comunidades e fazer muito barulho nas rádios e esquinas, tomar a avenida em um grande protesto por respostas imediatas para juventude e a população em geral.

BASTA DE COVARDIA CONTRA CRINÇAS E ADOLESCENTES!

PRISÃO DE TODOS OS CORRUPTOS E CORRUPTORES!

DEVOLUÇÃO DO DINHEIRO E PATRIMÔNIO PÚBLICO DESVIADOS, COM CONFISCO DE BENS!

CAMETÁ MERECE SER PÉROLA E NÃO MANCHETE POLICIAL!

Cametá, margem esquerda do rio Tocantins, 18 de agosto de 2011.

**José Pessoa do Rego Lobo

Funcionário Público do TJEPA, graduando de História, Presidente do PSOL de Cametá,

Dirigente do Movimento Terra Trabalho e Liberdade - MTL

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O LIBERAL do dia 14 de Agosto de 2011.

"Meninas de até 13 anos são maiores vítimas em mãos de aliciadores"
EVANDRO FLEXA JR.

Uma grande rede de criminalidade se instalou em Cametá, cidade localizada a 200 quilômetros de Belém. Na última década, o tráfico de drogas marcou o início e o fim de um ciclo que vem gerando uma série de mazelas à região do Baixo Tocantins. A falta de combate ao crime organizado resultou no envolvimento de muita gente inocente com as drogas. E como efeito imediato, a cidade, conhecida como "Pérola do Tocantins", vivencia um aumento alarmante nos índices de violência, sobretudo contra crianças. O Conselho Tutelar local registrou, entre janeiro e abril deste ano, mais de 40 casos de agressões contra menores, sendo que mais da metade envolve o binômio drogas e prostituição.

No entanto, este elevado número de ocorrências nem sempre implica em punições, pois apenas 10% dos casos que chegaram ao Conselho Tutelar no primeiro quadrimestre deste ano, resultaram em inquéritos policiais. O medo e a incerteza contribuem para o aumento da impunidade. Enquanto isso, os aliciadores continuam soltos, em busca de novas vítimas, para manter vivo o tráfico de drogas na região. O alvo deles são meninas de 9 a 15 anos, em situação econômica abaixo da linha da pobreza, habitante de uma das quatro áreas periféricas da cidade. São adolescentes de famílias desestruturadas e de numerosos membros.

Depois das 22 horas, a cidade de Cametá se transforma em um local inóspito, com características similares às de Sodoma e Gomorra (cidades destruídas por Deus, conforme relatos bíblicos). Durante as madrugadas, adolescentes vagam pelas ruas, quase sem roupas, sempre conduzidas por agenciadores arguciosos, sendo levadas a satisfazer os desejos carnais dos chamados "patrões" em troca do financiamento que alimentará o vício das drogas.

As negociações acontecem, entre outros lugares, na praça principal da cidade – em frente à sede da Prefeitura. Basta se acomodar em um dos muitos bares existentes no local que os agentes, através de acenos e olhares, oferecem o "serviço". Os aliciadores são, em sua maioria, homossexuais ou mulheres veteranas na prostituição, com algum tipo de ligação com os traficantes. Suas vítimas, as jovens prostitutas, não participam da transação até que ela seja fechada.

Estes agenciadores, além de atrair o parceiro sexual das meninas, chamados "patrões", têm a incumbência de conduzir as adolescentes às drogas. Já os "patrões" são homens de situação financeira estável, de classes média e alta, que em alguns casos têm certa influência na cidade. Além de políticos, empresários e comerciantes, os aliciadores também seduzem caminhoneiros e viajantes. Alguns chegam a alugar imóveis exclusivamente para manter relações sexuais com as meninas, o que dificulta o trabalho do Conselho Tutelar e da Polícia.

Festas servem para atração de garotas

Todo final de semana são feitas grandes festas em Cametá, com muita bebida e quase nenhuma fiscalização dos órgãos competentes. De acordo com o conselheiro tutelar Almiro Leão, a cidade vive um momento de violência generalizada, porém a exploração e o abuso sexual chamam a atenção. "Não sabemos ao certo onde está o problema, mas tudo indica que a impunidade contribui para o aumento de ocorrências", afirma, ressaltando que, dos 41 casos registrados no primeiro quadrimestre deste ano, nenhum foi sentenciado. "Nem mesmo os flagrantes, foram qualificados. Parece uma rede", denuncia. A falta de estrutura no município também é um argumento utilizado pelo conselheiro, já que a cidade não tem médico perito e, tampouco, delegacia especializada.

No ano passado, o Conselho Tutelar de Cametá atendeu mais de 112 casos de violência sexual. Como 60% da população cametaense mora na zona rural, os distritos de Carapajó, Curuçambaba e Vila do Carmo foram os recordistas em brutalidade contra menores. Já na cidade, o Porto da Balsa é o lugar de maior incidência de casos. Conforme explica Leão, os próprios aliciadores são, em alguns casos, usuários ou traficantes de drogas. "Nas redes de exploração das adolescentes, elas fazem de três a cinco programas para obter as drogas. É algo associado, já que as meninas se tornaram dependentes químicas", conta. Os programas custam, em média, R$ 30, sendo que R$ 10 são a cota do aliciador e R$ 20 vão para as mãos dos traficantes.

Gravidez precoce tem níveis elevados

O rosto é de uma menina que ainda vai levar certo tempo para se tornar mulher. O comportamento e a forma de expressar as ideias, não. Com 14 anos, S.C.H. está grávida de sete meses, e espera um menino. Ela tem quase certeza de que o pai de seu primogênito é o ex-namorado, um garoto de 15 anos. Quase, porque o filho também pode ser fruto de um programa. A jovem foi inserida no mundo da prostituição quando tinha 11 anos. À época, ela dançava hip hop com os amigos, nas praças de Cametá. Uma companheira de dança, natural de Mocajuba, foi a responsável por mudar o destino da adolescente, que sonhava em ser bailarina.

"A primeira vez que experimentei a droga foi na companhia desta minha amiga. Ela era usuária de maconha e costumava se trancar nos motéis da cidade, juntamente com outras pessoas, para fumar. Certa vez, ela me convidou para sair e, sem perguntar qual seria o destino, aceitei. Quando percebi, estávamos em um motel, com outros dois caras, todos muito violentos", conta a menina. Foi neste dia que S.C.H. conheceu a droga. Para manter o vício, a adolescente foi orientada pelos fornecedores da maconha a se prostituir, e assim o fez.

A relação da jovem com os pais rapidamente começou a mudar. "Eu roubei meu próprio pai para comprar drogas. E não só ele, mas o restante da família, e nas ruas também . O resultado, depois de tantas brigas com a minha mãe, foi a proibição de entrar em casa. Passei a morar na rua e a dormir em uma rede, no cais, embaixo do trapiche. Quando eu acordava, pela manhã, os pescadores me olhavam como uma indigente e acenavam me pedindo sexo", conta. Maltratada e ao relento, S. C. H. deixou de ser desejada e de atrair "patrões". Depois de alguns altos e baixos, e com a ajuda da irmã mais velha e do Conselho Tutelar, ela conseguiu retomar o curso da vida, e hoje está de volta à casa dos pais.

Abusos sexuais são frequentes e normais

Além da exploração sexual, Cametá vive uma onda de abuso sexual contra menores. De acordo com a psicóloga do Centro de Referência Integral da Mulher e da Criança (Crimic), Mirene Barros, é comum encontrar meninas de 13 a 18 anos grávidas na cidade. "Estou cuidando do caso de uma moça que, com 18 anos, está na quarta gravidez. A família dela acha bastante normal e se diz acostumada com esta situação, já que a primeira gestação da menina foi aos 13 anos", descreve. A psicóloga garante que, ao contrário do que pensam as famílias, todos os casos de gravidez envolvendo menores resultam de abuso sexual e se enquadram como ato libidinoso, na Lei 12.015/09, que trata dos crimes sexuais.

A Prefeitura Municipal de Cametá, através da Secretaria de Assistência Social, alega não ter estrutura para conter o aumento do número de casos. De acordo com a assistente social do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), Alessandra Sena, o órgão não consegue acompanhar as famílias até o final do programa, o que fatalmente acaba culminando em reincidência. Ela acrescenta que as vítimas têm medo de levar adiante as denúncias, por conta da falta de agilidade da Justiça e da carência de conhecimento dos próprios direitos. "Sem uma reclamação formal das vítimas, os agressores continuam impunes, cometendo os mesmos crimes. Desta forma, não temos pernas para acompanhar tantos casos", afirma.

Polícia recomenda que famílias denunciem situação de risco

Todo crime precisa partir de uma denúncia. Pelo menos é o que afirma o delegado Fernando Bezerra, da Delegacia de Polícia de Cametá."Estamos trabalhando, juntamente com a Polícia Militar, de forma árdua, para coibir estes casos. Fazemos rondas ostensivas em toda a região", garante. Segundo Bezerra, há dois anos, a Delegacia de Cametá tinha 90 presos. "Hoje são mais de 180 detidos, ou seja, em apenas dois anos, dobramos o número de capturados envolvidos em ações como drogas, por exemplo", ressalta. Somente por conta das drogas foram presas 77 pessoas, nos últimos dois anos. O delegado considera que há uma subnotificação dos casos de exploração e abuso sexual. "Sabemos que é grande o volume de menores vítimas de violência sexual. O problema é que a maioria dos casos não é registrada. Se chegar até mim, é instaurado processo para apurar as denúncias , no mesmo instante", garante.

Formalizar as denúncias pode ser uma das saídas para evitar uma catástrofe na vida de uma jovem. Um simples contato com a Polícia poderia ter mudado o destino da menina R.F.S., de 13 anos, que foi aliciada pelo irmão da própria madrasta. Filha de um matrimônio que não deu certo, a menina foi morar com o pai há dois anos, e hoje está grávida de seis meses. A jovem ficou com algumas sequelas psicológicas adquiridas na relação marital que teve com o seu aliciador, união consentida pelo pai. De acordo com a mãe da adolescente, a dona de casa Arosilda Sá, o rapaz que aliciou R.F.S. tinha 21 anos e era agressivo, enquanto sua filha, que era extremamente dócil, tinha apenas 11 anos. "Eu sempre fui contra a aproximação deste ordinário. Mas como ela estava longe de mim, morando com o pai, eu não podia fazer nada, senão orientar", afirma.

O crime cometido pelo agressor foi o de estupro vulnerável contra menor de 14 anos, conforme a Lei 12.015/09. O aliciador, no entanto, continua solto, embora o Conselho Tutelar esteja trabalhando para que o acusado seja punido. Provocada pelo conselho, em setembro do ano passado, a Justiça concedeu a guarda de R.F.S. à mãe. Ela voltou a morar com Arosilda Sá em maio deste ano. Com uma renda de R$ 166, oriunda do Bolsa Família, a dona de casa não sabe ao certo como vai cuidar dos três filhos e do neto que está por vir. "Agora, não posso abandonar minha filha quando mais ela precisa de mim. Estou desempregada, porém venho buscando um trabalho. Tenho certeza que Deus há de nos abençoar, e esta criança vai marcar um novo momento em nossas vidas", presume.