terça-feira, 9 de agosto de 2022

A Montanha e o caminhante

Aqui cheguei, nesta escarpa ora tépida, ora fervente, sempre encantada 

onde enxergo minhas mãos vazias

Triunfo cálido! 

Mutiladas, Viva, doam e semeiam 


Òsanyin e Thoht meu sonho enleiam

e que o véu de Lopotéia proteja meu coração!

essa barca ainda errante que abandonou Tântalo e Loki e o ouro do Reno,

destroços de minhas cascas, cascos, conchas e crinas cavalgantes


Sob meus pés a rocha  ocre me anima 

Sobre as nuvens ladeio e traço o pico ao longe

no Sagrado onde devo chegar desde o obsceno 

tantas nuvens mais altas vejo

tantas lascas nesse tronco atávico 

tantas folhas, fios, frestas, fluem formando frenéticas fantasias 

que ora dispo, rasgando a túnica dileta de minha infância

nessa jornada de ser e não ser empático


Vales e Casas e Pessoas inda mais distantes seguem

e já não sei se foram quem fui ou deixei 

ou partes de mim que me querem estático


Aqui as fibras do Espírito do Tempo retesam minha voz

Diante delas silencio, calo, engulo o choro ainda atroz

renego o Esquecimento, saudando cada cicatriz 


Os passos cravam no firmamento de cada sonho

e tanto quanto mais perto da margem me deixa o Caronte

tanto mais vezes sinto o sorriso do abutre radiante

e meu fígado renascido, pulsa inda mais feliz!


Sem paredes, os pensamentos vibram,

reverberam nas colunas dos princípios

e me preenchem, carinhosamente 

e aquelas pequenas vozes, miragens e sombras 

por mais que teçam algemas, emanem espinhos

já não mais me ferem

por isso sigo!


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