segunda-feira, 1 de agosto de 2022

A CANOA E A CORRENTEZA, DISCURSOS HEGEMÔNICOS E A CONSTRUÇÃO DE NOVAS IDENTIDADES PLANETÁRIAS, UMA ANÁLISE PELO VIEZ PECHEUXTIANO

 Este documento é um ensaio produzido para disciplina Teoria do Texto e do Discurso, ministrado pela Drª. Rita de Cássia Paiva, para o Curso de Letras Espanhol, entre outros da Faculdade de Línguas Modernas da UFPA.


Ailton Krenak, na presente o X Fórum Social Pan-Amazônico - FOSPA, realizado em Belém, nos dias 28 a 31 de julho de 2022.

Tema da mesa: Multilateralismo, democracia não antropocêntrica e Assembleia da Terra.

Foto de José Pessoa.

As fotos e/ou imagens adicionadas a está postagens não compunham o trabalho original. Todas foram extraídas do google.com.








RESUMO

 

A partir de uma perspectiva Pecheuxtiana da Análise do Discurso – AD, o presente ensaio pretende encontrar na teia enunciativa de Diálogos Selvagens entre Ailton Krenak e Anna Dantes, formas contra hegemônicas de enfrentar a correnteza conservadora-fascistizante recrudescente em nossa sociedade. Adotando como pano de fundo epistemológico alguns dos conceitos centrais para a Teoria da AD, e, para a compreensão do Fascismo enquanto fenômeno Histórico em curso desde 1920.

 

Ao apresentar elementos conceituais do nazifascismo, postos em diversas perspectivas político-ideológicas, podemos encontrar similaridades como a proposta discursiva e estética, emanada desde os aparelhos ideológicos do Estado e as classes dominantes que dão sustentação ao atual governo, promovendo uma disputa pela hegemonia em nossa contemporaneidade, em face das quais nos contrapomos ao optar por epistemes Outras, que carregam consigo signos, significados e modos que produzem conteúdos subjacentes e buscam liames interconectados entre ancestralidades e às possibilidades futuras de superação deste mundo pandêmico em que vivemos.

 

Palavras-chave: Análise do Discurso, Fascismo, ancestralidade indígena, contra hegemonia.


RESUMEM

A partir de una perspectiva Pecheuxtiana del Análisis del Discurso - AD, el presente ensayo pretende encontrar en la web enunciativa de Diálogos Salvajes entre Ailton Krenak y Anna Dantes, formas contra hegemónicas de enfrentar la corriente conservadora-fascistizante recrudescente en nuestra sociedad. Adoptando como telón de fondo epistemológico algunos de los conceptos centrales para la Teoría de la AD, y para la comprensión del Fascismo como fenómeno Histórico en curso desde 1920.

 

Al presentar elementos conceptuales del nazifascismo, puestos en diversas perspectivas político-ideológicas, podemos encontrar similitudes como la propuesta discursiva y estética, emanada desde los aparatos ideológicos del Estado y las clases dominantes que dan soporte al actual gobierno, promoviendo una disputa por la hegemonía en nuestra contemporaneidad frente a las cuales nos contraponemos al optar por epistemes Otras, que llevan consigo signos, significados y modos que producen contenidos subyacentes y buscan lazos interconectados entre ancestralidades y las posibilidades futuras de superación de este mundo pandémico en que vivimos.

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Palabras clave: Análisis del Discurso, Fascismo, ancestralidad indígena, contra hegemonía.

 

 

JUSTIFICATIVA

 

O corte temporal que faremos está compreendido entre os processos políticos ocorridos no meio do segundo mandato de Dilma Rousseff e o dia 14 de junho de 2022, data na qual a Polícia Civil de Foz do Iguaçu concluiu o Inquérito Policial sobre o assassinato de Marcelo Aloízio de Arruda[1].

A delimitação temporal revelou-se particularmente problemática, não quanto ao seu marco inicial, mas sobre o final, posto que pretendi capturar um evento sociopolítico de grande impacto e que sintetizasse o Zeitgeist, o espírito do tempo em que vivemos, porém, a cada dia um evento de maior complexidade e gravidade vinha à tona, e, neste sentido, elegi o desfecho trágico deste assassinato e seu tratamento pelo Estado como testemunho indelével do que doravante será argumentado.

Constatamos que a compartimentação de nossa sociedade foi exacerbada desde às chamadas “Jornadas de Junho”, também nomeadas de “Levantes Populares” ou “Insurreição” de junho de 2013, mais ainda e sobretudo, depois do Golpe civil-militar/político-jurídico de 2016, que impeachtimou a ex-presidente Dilma Rousseff.

Desde então, diversas intelectuais do campo crítico como Maria Rita Kehl, Ricardo Antunes, Sabrina Fernandes, Michael Löwy, Sônia Guajajara, Alysson Mascaro, Rita Von Hunty, entre tantas outras mentes atentas e indignadas passaram a dar mais atenção em suas pesquisas, produções acadêmicas e manifestações públicas, ao conjunto discursivo de inclinações fascistizantes que passou a tomar conta dos mais diversos cenários institucionais e não-governamentais brasileiro, produzindo narrativas que coadunam com as piores práticas desenvolvidas pelo Estado e pela sociedade, legal ou/e oficiosamente, dentro e fora deste, desde o período colonial e que refletem, em última análise, o quadro de barbárie em que vivemos.

Michael Lowy
Guilherme Terreri  - Rita Von Hunty

Sabrina Fernandes
Sônia Guajajara

Ao encerramos o espaço territorial no Brasil, para observarmos o locus onde se desenvolvem a reprodução social dos fenômenos em tela, não pretendemos de modo algum desconectá-los de fontes ou influências estrangerias, por isso mesmo senti a necessidade de trazer a conceituação do fascismo desde pensadores europeus, dadas às suas conexões histórica, social e geográfica com o aparecimento mais nefasto desta doutrina hedionda que, infelizmente, tem reverberado a cada dia mais[2].

Por evidência empírica é fácil constatar diariamente que os noticiários de norte a sul do país nos “informam” de acontecimentos cada vez mais mórbidos e/ou de algum pronunciamento golpista ditatorial; de agressões a jornalistas e tentativas ou atos de censura; de algum discurso a conduta explicitamente racista, machista e/ou “glbtqia+fóbica”, conformando um amalgama enunciativo que disputa valores e auto proclama-se como representação de “Deus, da pátria e da família”, discurso e prática xifópaga às experienciadas totalitárias da Itália dos anos 1920.

Atos e enunciados por Órgãos oficiais ou seus representantes no Executivo ou Legislativo e no Judiciário. Atitudes e discursos que nos tem reforçado a realidade dos encarceramentos em massa, ou ainda pior, dos estupros diuturnos; feminicídios[3]; das crianças indígenas sendo trituradas por dragas em garimpos ilegais[4] em rios amazônicos; das lideranças ambientalistas assassinadas; de chacinas policiais e até do uso de câmara de gás improvisadas[5] por agentes federais de segurança pública. Tudo ao “sol do meio dia”, sem que haja duradoura comoção, sem protestos em massa, sem rebeliões, sem impeachment, “sem choro e nem vela”, apenas, se muito, como mais um post no telejornal ou nota de repúdio digital, demonstrando de forma inconteste quem tem mais hegemonia neste cabo de guerra ideológico.

Neste sentido, somando-me aos esforços para compreender e para combater tais discursos, narrativas e suas consequências mediatas e imediatas, mesmo que de maneira incipiente, porém comprometida e indignada, inconformada e não passiva, produz-se o presente argumento, que se propõe a confrontar à barbárie instalada com “Outros Discursos Selvagens”, que vislumbram apresentar elementos para a superação da tragédia, do fosso civilizatórios no qual nos encontramos.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Neste breve ensaio será analisado, de modo não exaustivo, diálogos realizados entre pessoas que se apresentam diante da vida em sociedade, desde seus autoreferenciados “lugares de fala” pertencentes a mundos diametralmente opostos aos ambientes de onde partem os discursos ora hegemônicos, os quais abordaremos tendo por base alguns conceitos da Teoria do Discurso e do Texto da escola de pensamento inaugurada pelo Filósofo, pensador e linguista francês Michel Pêcheux e das conceituações do Fascismos propostas por autores europeus que conviveram com o surgimento e o auge do regime organizado inicialmente por Benito Mussolini.

Os diálogos em questão são parte de um esforço mais geral do Coletivo de pesquisadoras e pensadoras destes amissas mundos que, no início da pandemia de covid-19, buscaram-se para refletir sobre os “modelos civilizatórios” hegemônicos que nos trouxeram até o caos de um capitalismo permanentemente em crise, ora pandêmico, visando apontar algumas perspectivas para mudanças paradigmáticas alternativas ao stabelichment, compondo o que denominaram “Diálogos Selvagens”, em especial no vento transmitido ao vivo em 14 de maio de 2021, exibido no YouTube e assim descrito pelos mesmo: “Como uma oferenda selvagem para a lua nova, a primeira Flecha foi lançada no horizonte, desenhou um arco-íris que nasceu no Acre e riscou o ceu de Pindorama até a Serra do Mar, nos avisando que chegou a hora”.

Porquanto, buscaremos contrapor a ideia geral de que a configuração da sociedade brasileira seja e/ou permaneça aquilo que outrora fora, isto é, proclamada desde há muito pela academia e em verso e prosa como “caldeirão cultural” fruto de uma maravilhosa e harmônica mistura, não apenas por seus povos gentis nativos dispostos aos milhões[6] por todo o território hoje chamado Brasil, e, pelos africanos e africanas para cá trazidos aos também aos milhões[7], mas também, por uma miscelânea de povos europeus conclamados a ocupar nossas terras, inclusive por políticas governamentais de incentivo, que remontam à primeira República[8], e que promover-nos-ia a esperada “Redenção de Cam”[9], que por fim, teriam culminado em nossa igualmente festejada “democracia racial”[10], sendo está marcada, justamente pelo oposto destas ideias e discursos, conclusão compartilhada com Florestan Fernandes e Kabengele Munaga, (1960)[11], qual seja, de que a contemporaneidade brasileira está amalgamada pelo fosso civilizacional que contém miríades de características colonialistas, escravocratas e protofascistas e que, ao nosso ver, se não forem estudadas, compreendidas e combatidas, poderão nos impor sofrimentos pessoais e coletivos com a destruições de instituições e biomas, com perdas que podem nunca mais serem revertidas, como não será a morte de quase 1.000.000 (um milhão) de brasileiros pela covid-19[12]; como não serão revertidas as queimadas na Amazônia e a extinção de espécimes, entre outros.

Kabengele Munaga
Florestan Fernandes

Para tanto, partiremos da caracterização superficial de alguns conceitos mais proeminentes da AD de viés Materialista, trazidos à baila a partir dos estudos do catedrático José Luiz Fiorin e do texto “Delimitações, Inversões e Deslocamentos” do próprio Pêcheux bem como do que fora apreendido pelo autor deste ensaio nas aulas da disciplina Teoria do Texto e do Discurso, ministrada pela Dra. Rita de Cassia Paiva[13], no semestre 2022.2 do Curso de Lestras Espanhol da UFPA, e, a posteriori, traremos conceituações acerca do fascismo propostas por Benedeto Croce; António Gramsci; Palmiro Togliatti; Otto Bauer  Daniel Guérin; Wilhen Reich; Angelo Tasca  e pela IIIª Interncional dos Trabalhadores, analisadas pela Profa. Phd Drª. Heloísa Paulo (Universidade de Coimbra)[14] para somente então apresentarmos as transcrições dos diálogos supracitados às suas respectivas contrapartes.

 

 

COMPOSIÇÃO DE ALGUNS CONCEITOS PÊCHEUXTIANOS QUE ALICERÇAM A PRESENTE ANÁLISE

 

A compreensão que parte de Michel Pêcheux parte de uma Análise Materialista do Discurso, discurso que pode ser definido como conjunto de efeitos de sentido entre interlocutores sócio-historicamente determinados, sendo socialmente administrados ao ocorrerem no processo de comunicação entre o enunciador e o ouvinte. Nesta concepção, compreende-se que os sentidos do discurso não estão no texto, mas nas leituras dos sujeitos, nas suas interpretações quando buscam a intentio operis, intensão da obra por sua vez permite muitas análises, mas não quer análise.

Os sentidos não estariam amalgamados puramente no texto, mas podemos encontrar indícios de seus nexos a serem extraídos de cada sintagma, posto que são permanentemente transpassados por relações em fluxo, gerando interdiscursos.

Portanto, só podemos falar de desses efeitos de sentidos quando essa chama tênue está acesa, essa conexão entre o texto, seus interlocutores e os outros textos que estes geram ao construir sentidos, dentro de um interstício de não-lugares que não é a soma de palavras e seus sucessivos sentidos (in)visíveis no texto, e nem o arbítrio estritamente cognoscentes de quem as decodifica, mas sim, enquanto um processo entre pontos de partidas (da enunciação) e de chegadas (entre os múltiplos interlocutores) que estão inelutavelmente enlaçados em um texto, verbal ou não verbal dentro da História.

Estes não-lugares estão em toda parte gerando efeitos impalpáveis, por vezes intangíveis, gerando desejos, desejos de compreender e de dizer, de ter e de ser, daí que Lacan mobiliza a ideia de um objeto “a”, do algo desejante e propõe equacionar na forma inusitada “1+1 = 3” (mas como? porquê?!), gerando um resultado impensado, para ele, fruto de um resto indizível, posto que omitido, recalcado, gerando efeitos simbolizados por coisas que não preenchem por completo, deixando-nos inquietações que (ZIZEK, 2011, p. 382) diria estar melhor equacionadas por “1+1+a” tendo como resultado, qualquer que seja, algo que também gera angustia, pela existência/inexistência deste objeto desejante.

                                                                   Slavoj Žižek

Já o Sujeito, este não se pode encerrar em papéis dicotômicos, posto que é sócio-histórico, ocupando simultaneamente posição de enunciador e enunciatário, permanecendo atravessados por inconscientes, pelo seu inconsciente e por inconscientes coletivos, portanto está destinado a permanecer cingido, fragmentado, dividido, também porque se sobrepõe a si forças pretéritas que lhe cercam, notadamente a Ideologia, que nos transpassa diuturnamente, desde de as construções semânticas e semióticas dadas desde a língua e na linguagem, incluindo suas estruturas morfossintáticas, que irão dar nome e significados ao mundo e a nós mesmos, como também se subjetivam e nos informam desde os fenômenos do inconsciente.

Por tanto, o Sujeito do Discurso é o Sujeito do Inconsciente, é o Sujeito da Ideologia, que para a AD pode encontrar conceituação mais ou menos acabada a depender do desenvolvimento do constructo teórico de Pêcheux, que inicia próximo a Althusser para diferenciar ideologia do tipo A (técnico-empirista) e de tipo B (Político-especulativo), para apresentar ao final da década de 1967 conceitos mais próximo do marxismo de Lênin, Luckács e Gramsci, argumentando ser teoricamente possível conceituar ideologia como consciência de grupo, dialogando com a ideia de que cada classe constitui um conjunto de valores difusos ou não que compõe uma representação de mundo válidos para dada sociedade ou uma classe em dado momento histórico, (Les Cahiers pour L’Analyse, nº 2, 1966, p. 82)[15].

Desta forma os primeiros sentidos encontrados no discurso podem aparentar naturalidade, parecendo serem frutos de processos óbvios, lógicos, irrenunciáveis, parecerem ser transparentes, claros, entretanto não são, e não poderiam jamais sê-los porque os sentidos são constituídos a partir de palavras que são elementos permanentemente em trânsito, como “gaiolas engravidadas de redes”, nos rios discursivos nas quais cada rede traz consigo um sentido próprio que depende da posição (sócio-historicamente, portanto, ideologicamente) que o enunciador está.

Desta forma, este Sujeito da Ideologia no discurso esta sujeitado justamente por crer que os sentidos são unívocos quando em realidade são polissêmicos.

Assim sendo e, para além disto, ou ainda, por corolário destes primeiros conceitos pode-se afirmar que o Sujeito do Inconsciente não é “dono e senhor dos sentidos que produz” e que os muitos sentidos que transmite podem ser observados não só a partir de seus discursos em si, mas através de outros elementos que estão no subtexto, que subjazem-se nas linguagens gestuais, nas opções estéticas de uso e até nas omissões e “atos falhos” que cometemos, gerando até a possibilidade de contradizer-nos enquanto enunciamos.

Um dos elementos que compõe este cenário onde os enunciados tornam-se discursos é da formação discursiva, no qual o sujeito entrará em choque com possibilidades de enunciação determinadas por circunstancias alheias às suas intenções, circunstancias exigidas para cada contexto social e destinatários, fazendo com que a inobservância de determinadas “regras, protocolos e linguagens” caracterizem o enunciado de modo negativo, inadequado, incoerente ou inconsequente, a depender de cada caso. E, por assim dizer, cada caso é dado pelas condições de produção, que podem ser pensadas em sentido amplo como os contextos sociais, histórico, social, ideológico, estético, de gênero, as condições de geração que nos diferenciam e são constitutivas dos nossos enunciados, assim como as condições de produção em sentido estrito também nos atravessam e influenciam, como condições psicológicas e ambientais.

No mesmo sentido, também se pode concluir que o constructo do discurso é uma produção que tem ponto de partida na enunciação, portanto no tempo, e que é também uma prática que transpassa aquele que enuncia, seja pelas ocorrências do inconsciente coletivo seja pelas formações ideológicas englobadas em diferentes formações discursivas que se remetem a uma ou mais formações ideológicas, perfazendo uma grande teia dialética de interconexões dialógicas que se intercalam e/ou sobrepõem, de modo que o discurso não deverá ser compreendido como uma produção individual e, por meio destas múltiplas conexões tampouco poderá ser compreendido adequadamente se for pensado de modo estático, atemporal.

Em trabalhos posteriores, nos idos de 1975, Pêcheux e Fuchs (1990), agregam ao sistema epistemológico da AD domínios de distintos saberes[16], mais detalhadamente, no campo do: materialismo histórico; da linguística e da teoria do discurso, reconhecendo adequado o tratamento das ideologias com base nas ligações com os modos de produção que dominam uma dada formação social, gerando um superestrutura ideológica que se engendram para gerar assujeitamentos que ocorrem de modo distinto a depender das condições de produção e ainda dos lugares sociais de sujeito. 

 

 

DA TRAGÉDIA À FARSA, ATOS DE UM ÚNICO ESPETÁCULO

 

Neste tópico faço uma enumeração um pouco extensa de conceituações do Fascismo em sua contemporaneidade, isto é, a partir de sua origem até aos dias atuais partindo dos estudos, como dito antes, da síntese das conclusões da Drª. Heloisa Paulo, como pesquisadora do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX/Ceis20, da Universidade de Coimbra/Portugal, tendo ainda como premissa de que os leitores interessados neste debate estão a par dos trágicos acontecimentos sócio-políticos em marcha nesta última década no Brasil.

A fim de buscar encurtar este tópico, traremos apenas os elementos de distinção em cada autor:

Benedetto Croce (1866 – 1953), pensador Liberal de formação, defendia que o Fascismo representava uma saída possível dentro do liberalismo econômico, mas com o diferencial de apresentar um Estado forte capaz de organizar uma sociedade desestruturada e empobrecida, tolerando o uso da violência hierarquizada com vistas a um futuro ordeiro e democrático. Este Estado e está sociabilidade deveriam se alicerçar em uma ampla base popular e dar conta de combater o Comunismo;

António Gramsci (1891 – 1937), filósofo Comunista Revolucionário reconhecia no Fascismo um movimento de ascensão da pequena burguesia, cujo líder caracterizava-se por um viés bonapartista cultuado e mitificado, que propunha o regresso a um passado glorioso. Para ele a dominação das massas partia da tentativa de construção de um consenso emanado da unidade de ação e da construção discurso gerador de mentalidades  que união valores laborativos, militaristas e a religiosidade cristã. O uso de uma narrativa do medo, do ideário de uma Nação unida e o combate ao Comunismo com defesa da família fora uma constante em sua análise;

Palmiro Togliatti (1893 – 1964), o dirigente e pensador Comunista trava-o como um “regime reacionário de massas”, que organizava amplos setores da sociedade para um movimento de manada, um estado permanente de passividade ativa que gerava aceitação da realidade, seja qual fosse, contanto que fosse referendada pelo discurso oficial do Dulce;

Otto Bauer (1881 – 1938), o Social Democrata austríaco, lembrado por iniciar um movimento de “terceira via socialista”, analisou o caso da Alemanha, sua decadência socioeconômica, moral e civilizatória após a derrota na 1ª guerra mundial como a falência do Estado Liberal Capitalista, tornando-se um elemento gerador de ressentimentos, pela pobreza e imposições do armistício forçado, que, para ele, “impulsionaram as massas a se levantar cheias de ódio contra a democracia”. No caso alemão, Bauer verificou que Hitler se aproveitara do nacionalismo e antissemitismo já existente naquela sociedade a um desejo coletivo de um Estado forte reorganizador desses anseios, que também era interesse do Grande Capital, que pretendia restituir o Poder sobre a sociedade e de antemão rechaçar os intentos dos oprimidos, influenciados por matizes Comunistas, Anarquistas e Socialistas.

Daniel Guérin (1904 – 1988); o escritor e teórico Anarcocomunista francês concordava com Bauer, tendo vivenciado na pele o período anterior e posterior a ascensão Nazista, onde constatou que o regime hitlerista “resgatou da miséria” quase a totalidade dos alemães, muitos na mendicância para lhes outorgarem espaços de prestígio econômico e social nas fileiras do partido nazista. Para este pensador o Grande Capital era o maior articulador e orientador de fundo, rearticulando as forças produtivas ao gerar uma indústria pesada bélico-automotiva massiva que ato continuo trilhou uma segunda acumulação primitiva, com políticas expansionistas neocolonialistas;

IIIª Interncional dos Trabalhadores (1929), fracassou ao analisar que o Fascismo seria uma fenômeno restrito à Itália e Alemanha, de curta duração histórica. Entretanto o “modelo” fora exportado mundo afora, tendo sido organizado em Montreux, no Canadá, em 1933, o primeiro “Comitati d´Acione per l’Universalità de Roma” (CAUR, ou Comissões de Ação para a Universalidade de Roma)  congresso da Comissão de Ação da Universalização da solução fascista, evento que congregara Liberais latino-americanos, além de europeus que em sua maioria já exibiam partidos Nazistas é legalizados . Em 1934, a IIIª Internacional reconhece que o Fascismo é uma ameaça a todos os povos e trabalhadores do mundo, como expressão máxima da crise do Capital, apontando como tarefa prioritária de todo campo de esquerda enfrentá-lo;

Angelo Tasca (1892 – 1960), Socialista Italiano, argumentou que: “Definir o fascismo, é antes de tudo, escrever só a história [...] Uma teoria do fascismo só poderá ser construída a partir de todas as formas de fascismo, latentes, assumidas, reprimidas ou triunfantes. Pois existe inúmeras formas de fascismo, cada uma esconde tendências múltiplas, por vezes contraditórias, e que podem evoluir até a mudança de alguns dos seus aspectos mais essências. Definir o fascismo significa descobrir esta evolução, e deter, em cada caso estudado, suas diferenças específicas [...].

Nicos Poulantzas (1936 – 1979), Filósofo e Sociólogo grego, retomando Gramsci, desenvolve o entendimento de que as crises de hegemonia no seio do Capitalismo conduzem o Capital às saídas fascistas, onde buscam assumir o Poder a partir de um bloco hegemônico capitalista reconfigurado de modo a se perpetuar, valendo-se do aparelho ideológico de Estado para sua reprodução social;

Ernst Nolte (1923 – 2016), Filósofo alemão referenciado em Kalr Marx, Max Weber e Nietzsche, argumenta que o Fascismo é um “fenômeno metapolítico que atige todas as sociedades, como um “antimovimento” contra o Liberalismo, o Socialismo e a modernidade;

Enzo Colloti (1929 – 2021), filósofo italiano, defendia a universalidade do Fascismo, entendo que este se apresenta em formas distintas que variam de acordo com cada realidade sociopolítica e histórica, mas que acompanham sempre as crises mais agudas do Capitalismo, conclusão semelhante a encontrada por Nadia Saito[17] em sua pesquisa de mestrado sobre o pensamento autoritário na Ásia[18].

 

 

DIÁLOGOS SELVAGENS COM AILTON KRENAK E ANNA DANTES

 

Os diálogos doravante transcritos estão no contexto do projeto “Diálogos Selvagens”, realizados durante a pandemia, antes mesmo que chegássemos ao mais obscuro dos cenários da mesma, bem como, antes que os piores acontecimentos da pérfida gestão Bolsonaro-Mourão ocorressem. Extrairei algumas perguntas e suas respectivas respostas, em sequência, partindo apenas do prólogo que o próprio vídeo-documento apresenta.

 

SOBRE A FLECHA 1 – A SERPENTE E A CANOA: Viajamos por teorias científicas contemporâneas e memórias das culturas ancestrais. O fio condutor deste episódio costura duas narrativas: a da canoa cobra, memória originária de povos rio negrinhos, e a serpente cósmica, presente em mitos de origem de diferentes culturas, vista como a dupla hélice do DNA, código de memória presente em tudo que é vivo. A viagem percorre uma sequência que entrelaça saberes indígenas e hipóteses científicas sobre o surgimento da Vida[19].

 

O diálogo inicia com algumas colocações de Anna Dantes e em seguida exibe a canção “Cambiar el Mundo”, de Môncica Besser e logo em seguida Alinton é convidado a emitir seu primeiro enunciado, que assim ocorre:

 

Momento 1)

Ailton Krenak – “Sobre perguntas, essa pergunta que a primeira flecha deixou no ar, que alguém me fez, dizendo ‘nossa, a gente sempre se pergunta quem somos’ e agora vocês inauguraram uma nova pergunta: O que somos? (...) A identidade, a questão identitária que muito em voga, onde todo mundo faz essa perguntam quem é?, ‘quem’ num (sic) sentido identitário, convoca uma outra pergunta profunda: O que somos? Esse homo Sapiens, essa gente, essa humanidade. (...) ela é a semente daquela pergunta que eu fiz sobre se nós somos mesmo uma humanidade, num sentido uniforme. Quer dizer: Se um extraterreno descesse em algum ponto equidistante e perguntasse pra (sic)  gente:  - O que são vocês? Será que íamos responder pra (sic) ele:  - Somos a humanidade!

Anna Dantes – Somos uma galáxia ambulante de sistemas celulares.

Ailton Krenak – Somos uma galáxia ambulante de sistemas celulares! Então estamos mergulhando em nós mesmos e esse mergulho em nós pode fazer aquele movimento que a canção que a Mônica[20] convida, que é ‘cambiar el mundo’ e é lindo porque a canção diz que se a gente não fizer nada, a gente pode simplesmente experimentar uma extinção, desse imenso coletivo que imaginamos sermos nós, a humanidade. Mas se nós nos fizermos a pergunta o que nós somos e uma eventual visita extrarrena nos perguntar, talvez a gente consiga estabelecer um diálogo, uma conversa com a vida, com a vida que está em todos os lugares. A Flecha lembrou a gente que a vida está em tudo, eu acredito que traz um refresco para as pessoas que estão nesse mundo turbulento, principalmente passando por muitas perdas afetivas, a pessoa poder sentir que a vida está em tudo. (Trecho extraído dos 5 minutos e 35 segundos aos 9 minutos e 35 segundos).

 

Neste primeiro momento o líder indígena Ailton Krenak, valendo-se de uma linguagem absolutamente límpida, mansa, quase pueril, apresenta alguns conceitos chave que se contrapõem ao pilar central do pensamento ocidental desde VII a.C aos dias atuais, isto é, o antropocentrismo e seus desdobramentos filosóficos e pragmáticos que informam toda ciência terrestre e de modo particular, a ciência ocidental que vem promovendo desde a primeira revolução industrial, uma verdadeira caçada ao resto da vida e da existência em geral.

Ao se conceber como uma complexa e inextricável colônia, ou “galáxia ambulante de sistemas celulares” que permite a existência dos humanos neste planeta, em trocas mutualísticas que ocorrem em nossos intestinos, com bilhões de bactérias e outros organismos sem os quais não sobreviveríamos, ou, com o mutualismo que praticamos com as espécies vegetais que fazem fotossíntese e que respiram o monoxó de carbono que expelimos, enquanto respiramos o oxigênio que elas espiram, Krenak repudia a máxima iluminista de que o “homem é a medida de todas as coisas” e propõe, no subtexto, encerramos o modelo de “humanidade” que nos conduziu, neste último século do Antropoceno, às maiores e mais frequentes e intensas catástrofes climáticas e biológicas como nunca vistas. 

Outro ponto interessante apresenta-se ao fazer um exercício hipotético de uma visita extraterrena, imaginada não como “Guerra dos mundos”, mas como experimento de reflexão e oportunidade de unificação de toda a humanidade, que ao passar a se perceber em sua natureza comum, como parte de um todo planetário interdependente, poderia enfim cessar com as guerras bélico-mercantis. Esse exercício mental, em conclusão parecida, fora feito por Ronald Reagan, na 47ª Assembleia Geral da ONU, 1987, convocando também a hipótese alienígena como único elemento capaz de unir a humanidade. Porém, ficamos com Krenak, qual humanidade? Afirmar a urgência de mudanças comportamentais, desde os hábitos alimentares individuais às políticas de geração de energia e os modelos dos parques industriais privados ou o eminente risco de extinção

 

Momento 2)

Ailton Krenak – Mais uma observação que eu tinha feito pra (sic) que todo mundo pudesse assistir essas imagens[21] que mostram como a vida chega ao nosso planeta, esse nosso mundo, trazendo uma outra possibilidade das crianças imaginar (sic) mundos que não seja só aquela narrativa que já é muito consolidada, que é colonial, e que é uma ideia eurocêntrica, aquela criação de mundo que a Europa entendia que era a maneira da Europa contar sobre esse mundo e que acabou sendo a única, porque é ela que está nos livros didáticos, é ela que está nos matérias escolares e em toda a informação que chega pras (sic) crianças. Eu achei muito bacana poder oferecer mais uma narrativa sobre o mundo, ela não precisa e nem deve ser a única, porque como a Ximamanda disse: - ‘Um mundo com uma única história, é mito pobre’. Então é importante um mundo com muitas narrativas porque eles podem também ser plurais, muitos mundos, pluriverso.  (Trecho extraído do momento 19 minutos e 23 segundos aos 20 minutos e 48 segundos).

 

Neste enunciado, em menos de dois minutos, Krenak combate uma das mais hediondas mazelas dessa humanidade branca-europeia-judaico-cristã, que foi e continua sendo a fonte da maioria das guerras, chacinas e genocídios mundiais e que, em escalas mínimas, continua causando sofrimento psíquico, rancor e ódios que também mutilam, quando não matam. Qual seja, a imposição de uma única verdade que ao afirmar-se sagrada, impõe aos Outros a condição de inimigo a ser vencido.

A imposição de uma única verdade, uma única fé, uma única linguagem, um único discurso de verdade foi e ainda é a arma preferida, a justificativa mor para todos os colonizadores de ontem e de hoje, afinal de contas os espanhóis eram os civilizadores, os bons cristãos e, os Outros, nossos irmãos não, eles eram só outros, aborígenes abomináveis, subtipos quase humanos, os sem almas.

Neste ponto, aos nos depararmos com os genocídios e epistemicídios das “Grandes Navegações” que ao encontrarem em nosso continente impérios nativos muito mais desenvolvidos em diversos ramos do saber que os europeus, além de milhares de povos e nações ancestrais que por milênios coabitaram os territórios do Polo Norte à Terra do Fogo, na Patagônia, mesmo com distinções de tecnológicas e modos de viver, simplesmente decidiram impor suas armas, línguas, culturas, escrita, fé, doenças e diásporas, em suma, os europeus impuseram a ferro e fogo seus discursos e mundos, fomentando a barbárie que busca se reinventar até hoje (com novos e antigos senhores, com novas, além das mesmas práticas de outrora), de forma que, com este jugo, possa impedir-nos de viver outras possibilidades, de contar novas/outras histórias, seja de cosmogonias misteriosas, encantadas ou de nós mesmos.

Krenak ao reconhecer os limites encontrados nos diálogos com adultos, com pessoas demasiadamente alienadas de suas ancestralidades e das possibilidades de compreender que todo discurso é só uma dentre infindas possiblidades narrativas, propõe levar às crianças esse diálogo, de modo que permitam a elas, antes que se lhes imponham os mesmos arreios e antolhos, reconstruir o mundo de modo que o plural seja o natural e não o diferente, o estranho, o Outro.

 

Momento 3)

Anna Dantes lê a pergunta de Luiz Rufino: - Qual a política de vida possível para um Brasil que mantém por mais de cinco séculos uma agenda de morte e desencanto?

Ailton Krenak responde: - É o encantamento mesmo! É o encantamento Rufino, assim como a luz invade os ambientes em que tá (sic) tudo invisível e torna visível aquilo que estava oculto, não é?! Tem uma frase do querido Nelson Mandela, que diz que ‘nós os humanos, na verdade mão tememos a escuridão, nós temos a luz’. (...) e pensando na nossa história colonial que também compartilhada com os povos do continente africano, essa espécie de desencanto da vida, nós enfrentamos esse desencanto com luz, com a luz que reflete nos cantos, na voz, ouvindo nosso (...) Carlos Papá, que é um Guarany, ele diz essa maravilha que ‘a voz emite uma luz que atravessa um fio invisível e que é conduzido pela brisa da mata atlântica’, que é o ecossistema que eles vivem, e que vai longe, que vai comunicar com gente que está em outro lugar distante, em outra aldeia muito longe. Então são essas tecnologias sensíveis que nos possibilita seguir, atravessando quatro séculos de violência, negação e, insistindo em cantar, dançar, insistindo em iluminar esses ambientes, mesmo praqueles (sic) que dizem ter medo do escuro, dizem, mas que na verdade eles têm medo é da luz. E essa narrativa de um mundo em que tudo é vida e o contrário de vida não é morte, é desencantamento, ela é uma narrativa muito poderosa para desbaratinar essa conversa sobre a lógica de que os humanos preferem se esconder do que se expor à luz. (Trecho extraído do momento 22 minutos e 50 segundos aos 26 minutos e 51 segundos).

 

No trecho acima o argumento de contraponto à lógica de morte perpassa por enfatizar os usos não mercantis das coisas e comunicar que a existência da Vida em tudo, a persistência da florestas e das interconexões com os seres que nela vivem, que dela vivem e que só têm Vida quando está é compartilhada em natureza, é uma “tecnologia sensível”, uma lingual singular muito apurada, fruto de milênios de sabedorias ancestrais que foi e é capaz de convier sem destruir e que não baliza as coisas por suas utilidades, mas por si mesmas em suas pluridiversidades.

 

Momento 4)

Anna Dantes lê a pergunta de Bruno Léverson: Será que nossa cultura branca ocidental está preparada para entender que o futuro é ancestral?

Ailton Krenak – Toda cultura é produção, toda! A cultura ocidental, ela foi produzida também, ela foi construída ao longo de muito, muito tempo. Talvez o que a gente devesse observar é que ela evitou outras narrativas, e por evitar outras narrativas ela quase que se constituiu como uma monocultura, mono cultura e monocultura sempre resiste a possibilidade de atravessar-se de ser atravessada por outras experiências. Inclusive, quando a gente pensa no organismo biológico mesmo, uma vegetação, quando aparece uma plantinha diferente lá, os botânicos chamam aquela plantinha de pioneira ou invasora, aquela plantinha que vai tentar se estabelecer naquele lugar onde tem uma outras vegetação formada ali, a gente chama isso de cultura também, e, a cultura do ocidente resiste a entrada de outras narrativas também, mas eu acho que se a gente ofertar essas narrativas com generosidade e se ela alcançar pincipalmente as crianças, porque eu acho que tem muito sentido essa conversa com as crianças, porque uma criança nunca via dizer pra você “ah, eu tô (sic) dentro da cultura do ocidente, a criança tá (sic) aberta, então assim, quem sabe num (sic)  mundo adulto vai ser difícil abrir essa porta, mas pras (sic) crianças... com cinco anos, quatro anos, com três anos, praquilo que na antroposofia chamam de primeiro septênio, se nesse primeiro septênio pode compartilhar essas visões plurais de mundo, ela não cria uma monocultura. A questão da visão ocidental é que ela foi excludente mesmo. Como o Rufino lembrou, ela ficou quinhentos anos colonizando outros continentes sem ouvir o que aquela gente tinha pra (sic) dizer. Imagina que nós temos histórias aqui no continente americano, como as dos nossos parentes Maias, os Maias têm uma literatura maravilhosa, eles têm uma obra que reúne as narrativas que se chama Chilam Balam, e esse maravilhoso livro de diversas histórias se quer são conhecidas, mas ele foi traduzido no século XVII até pro (sic) alemão. Porque que ninguém lembra dessas narrativas? Antes o mundo não existia? Ou, antes do mundo existir as narrativas do povo Teçana, Tukano, que estão na primeira flecha, elas sempre estiveram aqui, porque que nos séculos XVIII, XIX, os Jesuítas, todos aqueles outros ilustrados que passaram por aqui não tomaram conhecimento disso? O ocidente não quis ouvir essas outras narrativas. (Trecho extraído do momento 29 minutos e 57 segundos aos 33 minutos e 35 segundos).

 

A afirmação posta no argumento de Krenak, sem subterfúgios, de que a “cultura ocidental” é tão somente uma cultura como outras tantas, que parte de determinações sócio-históricas, que possui, portanto, um conjunto discursivo construído paulatinamente ao logo de gerações, pode ser compreendido como correlato ao amago da concepção Pecheuxtiana, já que este Sujeitos Ideológicos que enunciam a partir de narrativas que emprestas de tantas outras formações discursivas, não podem deixar de reafirmar, em certa medidas um conjunto de valores embutidos ao nível do subconsciente, daí porque a insistência a direcionar estas narrativas plurais, ancestrais, multimilenares, às crianças, Sujeitos Inconscientes que possuem, até então, menos amarras, barreiras e preconceitos, a ponto de receberem como “novas”, essas paisagens mentais, para que venham a reproduzir outras formas de existência.  

Momento 5)

Anna Dantes lê a pergunta de Laís Campos: - Pergunta 1) Dentro da cosmovisão indígena como é tratada a inclusão para necessidades especiais? Pergunta 2) como criar políticas públicas que sejam dialogadas dentro de grandes empresas públicas, mas principalmente privadas, que tenham na linda de frente Recursos Humanos e que olhe para esse todo antropológico? Acredito que esta seja uma boa ferramenta para potencializar as estruturas da sociedade na base “falar e fazer” o que precisa ser feito pelo planeta agora. Gratidão.

Ailton Krenak: - Laís, legal, olha, quando a gente fala nas culturas, dentro da cosmovisão indígena, a gente se remete a uma diversidade grande de Povos, desde os Yanomamys, os Guaranys, os Krenaks aqui, nossos parentes que estão lá no Tocantins, os Kraaraô, os Suruís, então hoje são algumas centenas de povos que têm sua experiência histórica de contato com essa cultura do Brasil, essa cultura urbana, industrial, do mundo do trabalho que é a que você se refere, onde as pessoas são percebidas como recursos humanos, inclusive é uma ciência não é? Você pode ir pra (sic) universidade, fazer uma especialização, ou uma graduação em Recursos Humanos. Depois, você vai ser admitido em uma empresa, uma estrutura onde o mundo do trabalho se administra, e onde essa ciência dos recursos humanos vai orientar uma relação com gente que está trabalhando alí, “esses tais de recursos humanos”. Que é na verdade, pessoas com diferentes habilidades, que vão ser contratadas para executar serviços, que se prevê que vão ser remuneradas, que vão ser pagos por isso. Então é bom observar isso, isso tem pouco a ver com inclusão no sentido social. Isso tem a ver como seleção do mundo do trabalho, de pessoas que são consideradas habilitadas, têm cabeça, tronco e membros, que enxerga, que ouve, que fala a língua daquela empresa, ele vira um recurso humano. Nas culturas indígenas da América do Sul, principalmente, essa relação com o mundo do trabalho nunca existiu. As pessoas desses povos, o ambiente interno dessas comunidades, ninguém é percebido como recurso humano, são percebidos como seres humanos, são pessoas. E estão alí no contexto das suas culturas, das suas comunidades e não são apreciados como habilidades, digamos assim. Eu acho interessante pensar esse todo antropológico, ele já é uma observação especializada, assim como Recursos Humanos. Uma observação antropológica se põe a olhar de fora desse ambiente próprio de cada cultura, de cada povo. Aqui mesmo, no meio da minha aldeia não tem nenhuma observação antropológica sobre nós, estamos aqui, uns conhecendo os outros com suas limitações ou com seus privilégios de mais intimidade com a cultura, pra(sic)  saber como nós operamos aqui, como é que a gente lida uns com os outros. A gente sabe das habilidades que cada um de nós tem e... em outra aldeia, outra comunidade, que nunca vai ser nada além de mil, duas mil pessoas, é muito raro encontrar um povo com trinta mil pessoas, que já é uma situação excelente, mas, mesmo alí não vai haver uma observação antropológica interna, uma auto..., uma “contraantropologia” interna. Eu entendo o que você está me perguntando é como nossa relação interna pode ajudar a melhorar a relação de uma empresa com as pessoas que têm necessidades especais, e isso tem sido cada vez uma exigência maior, apesar de nosso país ser indiferente a essas necessidades, as empresas hoje estão se obrigando a incluir nos seus quadros internos pessoas..., por exemplo uma pessoa que não ouve, que não tem audição, então ele é contratado pra(sic)  um serviço numa (sic) empresa, levando em conta que ele não tem essa habilidade, mas ele tem as outras habilidades todas, ou alguém que sofreu um acidente e perdeu um braço, você pode encontrar num (sic) banco essa pessoa que tem essa dificuldade, com essa necessidade, digamos, especial, exercendo uma função dentro da empresa, isso é uma necessidade e já é uma exigência social, que essas empresas incluam pessoas com essas necessidades especiais,, mas elas vão continuar sendo observadas dentro da empresa como recursos humanos. Sendo que a empresa vai considerar que tem recursos humanos mais adaptáveis, que podem assumir várias funções, multifunções, e vai ter alguns de nós que vai ter (sic) funções limitadas. No meio da cultura indígena, dessa cosmovisão indígena, eu não vejo de onde contribuir para esse aperfeiçoamento do mundo do trabalho, inclusive porque são culturas que repudiam esse mundo do trabalho na sua configuração moderna, esse mundo do trabalho onde definitivamente o corpo é observado como recurso humano. A maior parte das cosmovisões indígenas, elas repudiam essa ideia do trabalho como uma coisa que é o destino de cada um de nós. Talvez nós devemos pensar em mudar isso em relação a própria ideia desse mundo de trabalho e o lugar desses corpos, dessas pessoas, seria uma contribuição onde o trabalho não é o destino de alguém. Você não nasce, cresce, é preparado, é treinado para trabalhar, você vive a experiência do trabalho em colaboração com outras pessoas e você não é avaliado como recurso humano. Era isso que eu podia te devolver com essa pergunta muito especializada.  (Trecho extraído do momento 47 minutos e 11 segundos aos 55 minutos e 23 segundos).

 

A negação do paradigma ocidental, exclamada na fala tranquila, lúcida, porém constante e firme de Ailton Krenak, não em nome de todos os indígenas, mas a partir de uma vida inteira erigida este locus de convivências compartilhadas, compreendendo perfeitamente que o modelo societário ocidental é justamente o modelo bélico-industrial capitalista, decide não compactuar com um recorte de emendas, com um programa de ajustes, como uma média reformista.

Não, sua postura depõe contra os baluartes mais preciosos do Capital e seu modo excludente, preconceituoso e degenerante de vida, de sua necropolítica e suas estruturas simbólicas que são escanteadas não como o ápice do saber humano, mas como um modelo pouco civilizado de lidar com as conexões planetárias e em especial com a vida humana.

A negação da lógica formal dos recursos humanos, dos tratamentos “humanizados” das dinâmicas de ajuste laborais, seus planos cartesianos e métodos de especialização dos saberes, a negação, pela afirmação de outra visão alternativa, de um modus operandis que não subtrai e nem divide, mas que soma e compartilha, coisas, experiências e relações sociais e psicológicas, de forma autêntica, verdadeiramente significativa e que possibilitem aos Sujeitos construírem suas próprias histórias a partir de papeis não dados, de nichos flexíveis.

A afirmação do não querer ser “recurso humano” e tampouco aceitar a alcunha de “preguiçoso”, impõe uma memória ancestral que reconhece a si mesmo como dotado de valores que independem das “capacitações ou títulos acadêmicos” onde cada pessoa pode fazer sua descoberta ou construir suas sociabilidades podem ser experienciadas livremente, isto é, a negação do mundo do trabalho, seus horários e disciplinas, sua mecânica funcional que desorganiza e adoece a Vida, promovendo uma decomposição antinatural da natureza, de modo a enquadrá-la em seus esquemas.

 

A QUISA DE CONCLUSÃO

 

Compreender que os indivíduos que enunciam não são portadores e controladores de cada um dos aspectos discursivos que carregam consigo ou que seus textos podem conduzir/reproduzir, não abstrai de cada um de nós a necessidade de reconhecer quais elementos históricos, sociais, filosóficos, quais interesses difusos, de classes, a quem se destina e para quais finalidades cada texto é produzido. 

Mesmo que estejamos inseridos em narrativas generalizantes, que se pautam por uma lógica que deforma as relações de convívio entre as espécies, que desarmonizam as interconexões de todas as formas de vida, com todos os elementos naturais inanimados que também compõe trocas conosco e que, sem os quais, seria absolutamente impossível viver neste planeta e que também, entre nós humanos, vem prevalecendo como formas-metabólicas de viver que causam sofrimento e morte, se propagando e se promovendo, buscando se perpetuar indefinidamente como a única forma possível de viver, isto é, dentro de um eterno Capitalismo que opera triturando gente e exterminando culturas e povos a aproximadamente seiscentos anos, é urgente dizer que não!

Essa é só mais uma narrativa, um complexo e intrincado conjunto discursivo construído histórica e culturalmente desde o centro da Europa para todo a Terra. Ao apontar as similitudes centras em diferentes formar conceituar e compreender o movimento fascista, desde de sua origem, conclui-se que este não é um fenômeno fechado com características estanques, muito ao contrário, é parte do mecanismo ideológico capitalista e como este, é engenhoso e sagaz ao se reinventar para manter e aumentar sua área de impacto.

Nestes meandros conceituais encontramos elementos narrativos semelhantes aos que hoje se propaga diariamente, sejam nos discursos oficiais do presidente Jair Bolsonaro e seus ascetas, ou nas filas dos mercadinhos, nas paradas de ônibus, nos bares e aniversários, demonstrando, uma vez mais, que o fascismo enquanto ideologia que atravessa historicamente a sociedade infiltra-se na psique coletiva e ganha o senso comum a partir de discursos, construindo-o de “cima para baixo ou de baixo para cima” como bem constatou João Bernardo Maia Veiga Soares (Porto, 1946), mas sempre sem cessar de disputar seus valores (i)morais e sua racionalidade anticientífica.

Nossas melhores e mais bem-sucedidas formas de resistência a esse modelo de viver foram expressas nas falas de Ailton Krenak e são, em última instância, a demonstração viva de tradições ancestrais de milhares de anos que não sucumbiram e nem se curvaram ao Capitalismo e suas formas odientas de destroçar sonhos. Ao reafirmar esta orientação fazemos o contraponto aos discursos fascistizantes sem dizê-los, regando reproduzir sua enxurrada sangrenta, sem ignorar o necessário e urgente enfrentamento, que fazemos também nos discursos enquanto objeto integralmente linguístico e histórico, que nos permite dizer, sem dizer, em seu dialogismo constitutivo,     

E, para além dos discursos revolucionários e tradições anarco-comunistas, estes indígenas vêm nos ensinar que a Vida está em tudo e que é preciso sim, dizer não à barbárie e suas receitas, reconhecendo-nos desde outro patamar, este sim, plural, civilizacional, harmônico e integrado com tecnologias sensíveis à perpetuação das vidas nesse corpo cósmico, nossa única canoa-serpente a navegar pela Via Láctea.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

 

A Redenção de Can: pintura à óleo sobre tela realizada pelo artista espanhol Modesto Brocos (Santiago de Compostela9 de fevereiro de 1952 — Rio de Janeiro, 28 de novembro de 19356), em 1985. A obra aborda as teorias raciais controversas do fim do século XIX e o fenômeno da busca pelo "embranquecimento" gradual das gerações de uma mesma família por meio da miscigenação. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Reden%C3%A7%C3%A3o_de_Cam> Acesso em 30 de Jun. 2022.

 

Assassinato de Marcelo Arruda. Disponível em: <https://g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/2022/07/10/camera-registra-momento-em-que-atirador-invade-festa-e-mata-guarda-municipal-que-era-tesoureiro-do-pt-em-foz-do-iguacu.ghtml>. Acesso em 25 de Jun. 2022.

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Conversa Selvagem – Primeira Flecha: A SERPENTE E A CANOA, Alinton Krenak e Anna Dantes <https://www.youtube.com/watch?v=AMmrj8e9OUo>. A Narrativa dessa Flecha é baseada nos livros: A Serpente Cósmica, o DNA e a Origem do Saber, Jeremy Narby; Antes o Mundo Não Existia, DESANA e O Mundo Tukano antes dos brancos, de Alvaro TukanoCrescimento do neonazismo no Brasil, dados da Antropóloga Dr. Adriana de Abreu Magalhães Dias, ID Lattes: 3395794062617639, disponível em: <https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2022/01/16/grupos-neonazistas-crescem-270percent-no-brasil-em-3-anos-estudiosos-temem-que-presenca-online-transborde-para-ataques-violentos.ghtml>.

Crianças Yanomami mortas por dragas em garimpo ilegal, disponível em: <https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2021/10/criancas-yanomami-mortas-draga-garimpo-roraima/>.

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Defasagem no número de mortos por Covid-19 no Brasil: Disponível em < https://butantan.gov.br/noticias/numero-de-mortes-globais-por-covid-19-pode-ser-tres-vezes-maior-do-que-os-registros-oficiais-indica-estudo-americano>. Acesso em 15 de Jun. 2022.

 

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Les Cahiers pour L’Analyse, nº 2, 1966, p. 82.

O pensamento autoritário na Ásia foi tema de sua comunicação no Curso de Extensão “Fascismo 100 anos, da ascensão de Mussolini à Contemporaneidade”, promovido pela UEMG-Passos, transmitido online no dia 23 de Jul. 2022, disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=7WS69IzTeD8>.

Palestra “FASCISMO: conceituação” proferida pela Drª Heloísa Helena de Jesus Paulo - http://lattes.cnpq.br/5250382296147187, transmitida ao vivo pelo YouTube no dia 25 de junho corrente, para o curso de extensão Fascismo 100 anos: Da ascensão do Mussolini até seus desdobramentos na contemporaneidade, realizado pela UFMG Passos. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=-EqApsF86J0&t=279s>. Acesso dia 28 de Jun. 2022.

 

PÊCHEUX, Michel e FUCHS, Catherine. A propósito da análise automática do discurso: atualização e perspectivas (1975). In: GADET, F. e HAK, T. Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Campinas-SP: Editora da UNICAMP, 1990.

Pêcheux e Fuchs (1990 [1975], p. 163- 164).

 

Ranking dos lugares mais perigosos para uma mulher viver. Disponível em < https://br.blastingnews.com/sociedade-opiniao/2017/01/feminicidio-10-paises-com-maior-taxa-de-violencia-contra-a-mulher-001427789.html>. Acessado em 15 de Jun. 2022.

 

ZIZEK, 2011, p. 382.


[1] Marcelo era Tesoureiro do PT e foi assassinado à tiros em seu próprio aniversário de 50 anos, cuja temática política alusiva a Lula e seu partido, despertara o ódio do servidor da área de Segurança Pública Federal e, bolsonarista radical, José da Rocha Guaranhos. Segunda a primeira Delegada do caso, o crime não teve motivações políticas. 

[2] Dados levantados pela pesquisadora e Antropóloga Adriana Dias apontam um crescimento de 270% das células abertamente neonazistas no Brasil, nos últimos três anos.

[3] O Brasil ocupa a 5ª posição no ranking dos lugares mais perigosos para uma mulher viver, com altíssimos casos de feminicídio, estupro e outras violências. Disponível em < https://br.blastingnews.com/sociedade-opiniao/2017/01/feminicidio-10-paises-com-maior-taxa-de-violencia-contra-a-mulher-001427789.html>. Acessado em 15 de Jun. 2022.

[4] https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2021/10/criancas-yanomami-mortas-draga-garimpo-roraima/

[5] https://veja.abril.com.br/coluna/jose-casado/na-prf-camara-de-gas-improvisada-e-tecnica-de-menor-potencial-ofensivo/

[6] É impossível fazermos uma estimativa razoável da população total à época do “descobrimento”, dado o genocídio em curso desde então. Algumas pesquisas tratam entre “2 a 5” milhões de pessoas. Atualmente são cerca de 250 mil indivíduos, que falam cerca de 170 línguas diferentes e se organizam em mais de 200 grupos étnicos, cada um com suas idiossincrasias e cosmogonias diversas. Disponível em: < https://revistapesquisa.fapesp.br/indios-do-brasil/#:~:text=A%20popula%C3%A7%C3%A3o%20ind%C3%ADgena%20existente%20hoje,a%20cinco%20milh%C3%B5es%20de%20pessoas.> Acesso em 15 de Jun. de 2022.

[7] Estudos historiográficos apontam dados distintos, mas predomina a compreensão de que se trataram de cerca de 4,8 milhões de africanos trazidos na condição de escravos para o Brasil, por mais de 300 anos. Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45092235#:~:text=4%2C8%20milh%C3%B5es%20de%20africanos,670%20mil%20morreram%20no%20caminho.> Acesso em 15 de Jun. 2022.

[8] A exemplo do Decreto L. nº 528, de 1890, da República dos Estados Unidos do Brasil, que em sua ementa justifica que “Considerando a conveniencia de regularisar o serviço da immigração na Republica, de modo que os immigrantes tenham segura garantia da effectividade dos auxilios que lhes forem promettidos para o seu estabelecimento;”. Entre outros argumentos para a citada norma legal. Disponível na íntegra em < https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-528-28-junho-1890-506935-publicacaooriginal-1-pe.html#:~:text=Regularisa%20o%20servi%C3%A7o%20da%20introduc%C3%A7%C3%A3o,dos%20Estados%20Unidos%20do%20Brazil.> Acesso em 15 de Jun. 2022.

[9] É uma pintura à óleo sobre tela realizada pelo artista espanhol Modesto Brocos (Santiago de Compostela9 de fevereiro de 1952 — Rio de Janeiro, 28 de novembro de 19356), em 1985. A obra aborda as teorias raciais controversas do fim do século XIX e o fenômeno da busca pelo "embranquecimento" gradual das gerações de uma mesma família por meio da miscigenação. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Reden%C3%A7%C3%A3o_de_Cam> Acesso em 30 de Jun. 2022.

[10] FREYRE, Gilberto. “Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal”. São Paulo: Global, 2006.

[11] “[...] a democracia só será uma realidade quando houver, de fato, igualdade racial no Brasil e o negro não sofrer nenhuma espécie de discriminação, de preconceito, de estigmatização e segregação, seja em termos de classe, seja em termos de raça. Por isso, a luta de classes, para o negro, deve caminhar juntamente com a luta racial propriamente dita”.

[12] Estudos apontam para uma defasagem de dados que podem chegar a até o triplo do total de montes por covid-19 anunciadas em todo o mundo, incluindo o Brasil, como o segundo pior caso. Disponível em < https://butantan.gov.br/noticias/numero-de-mortes-globais-por-covid-19-pode-ser-tres-vezes-maior-do-que-os-registros-oficiais-indica-estudo-americano>. Acesso em 15 de Jun. 2022.

[13] Currículo lates disponível em <http://lattes.cnpq.br/2166588041049657>.

[14] Os conceitos de Fascismos apresentados neste trabalho decorrem dos estudos feitos pela Drª Heloísa Helena de Jesus Paulo - http://lattes.cnpq.br/5250382296147187, em palestra transmitida ao vivo pelo YouTube no dia 25 de junho corrente, para o curso de extensão Fascismo 100 anos: Da ascensão do Mussolini até seus desdobramentos na contemporaneidade, realizado pela UFMG Passos. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=-EqApsF86J0&t=279s>. Acesso dia 28 de Jun. 2022.

[15] Pêcheux assina em 1967 dois artigos onde discute o conceito de ideologia dentre outros centrais para AD com o pseudônimo de Thomas Herbert, intitulado “Reflexões sobre a situação teórica das ciências sociais e, especialmente, da psicologia social”.

[16] Pêcheux e Fuchs (1990 [1975], p. 163- 164).

[17] Drª. Nadia Saito, Professora Pensamento Crítico Anglia Ruskin University Pesquisadora Associada Université Sorbonne Nouvelle, ID Lattes: 2591232144409277.

[18] O pensamento autoritário na Ásia foi tema de sua comunicação no Curso de Extensão “Fascismo 100 anos, da ascensão de Mussolini à Contemporaneidade”, promovido pela UEMG-Passos, transmitido online no dia 23 de Jul. 2022, disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=7WS69IzTeD8>.

[19] Disponível em: Conversa Selvagem – Primeira Flecha: A SERPENTE E A CANOA, Alinton Krenak e Anna Dantes <https://www.youtube.com/watch?v=AMmrj8e9OUo>. A Narrativa dessa Flecha é baseada nos livros: A Serpente Cósmica, o DNA e a Origem do Saber, Jeremy Narby; Antes o Mundo Não Existia, DESANA e O Mundo Tukano antes dos brancos, de Alvaro Tukano.

[20] O diálogo inicia com a canção “Cambiar el Mundo”. Letra e música Mônica Besser. Produção: Guto Wirtti.

[21] Ailton Krenak se refere ao videoclipe fruto da compostagem de imagens, canções, trilhas sonoras e narrativas cosmogônicas que formam a “FLECHA 1- A SERPENTE E A CANOA”, disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=Cfroy5JTcy4>. 

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