quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Álcool, por José Jose Pessoa Rego,



               Sutilmente mata a sede e alucina
                          dormente minh'alma solta-se e vai
          queda livre sem paraquedas,
pensa que não cai


As crianças em mim
           sentem apenas fome e desejo
                         desconhecem o medo...
... e minha'alma entorpecida
                   desossando o resto de tudo em pontes e palafitas
                  já entrega seus segredos


Não presente o perigo, desejosa e atrevida
                rasga o ventre gélida cicuta
                    ainda que padecendo ou morto
inda e sempre
            nesta madrugada errada
docemente amarga bebida
 


              Sutilmente desarma e ocupa a mente
   já não discerne, já não se habilita e também mente!!

                     Tão doce é a mentira

É cortesã, é devassa
                     quase sempre arrependida
mesmo negando senil e canalha
  corto e curo e corto e curo
      
      Não cicatriza a ferida
murmuro e praguejo embriagado
  inundando meu presente com o passado
a cada gole menos perto do que procuro

Madrugada d'mim
        horas mortas sob o céu
rastejando ao leo, engasgado e louco
 


Face a face como o espelho no fundo do copo
  dourada silhueta tépida e cínica
               inalo, cheiro, engulo e rumino
o vômito dessa rotina entranhada em minhas tripas


             As mãos rastejam sobre a celulose embranquecida
minha cara também é branca,
   é patética medida

                    
                       Do topo à planta dos pés
  tudo é torpor e carne amanhecida
quase nada valho
                 amortalhado e úmido, nada me difere
ou separa das feras de que fujo

sabendo que estou mais doque sujo
é que me afogo vertiginosamente
                          atravessando jardins
 aloprado e inconsequente
                 por gole a mais, por outro trago
 deixando em casa os serafins

Sim, me embriago!
        
                   As pegadas que percebo são multiformes
        sombras entre lampejos


Quantos são dentro de mim???!!
                           Observo, atenta penitencia
       mas num segundo morre a coerência...

                      Quanto resta-me de mim?!
                  

  Belém-PA, 01/11/2013

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