Tântalo
amanhecido, por José Pessoa
Tenho fome,
O ventre do mundo repousa
escandalizado diante de mim
Suguei a água de todos os lares
Drenando toa sede de todas as
bocas
Debrucei-me, ávido de vida, como
matéria rota
Ressurgindo visceral e lânguido
Por entre tudo aquilo que
menosprezei
O hálito sísmico dos querubins
pressenti, escapei,
Mas como entender seus sinais?!
O verbo do Destino anunciou que
nada, nada existe mais!
Se não essa boca faminta,
Esses olhos desejosos, a frenesi
dilacerante de mãos que tateiam no escuro,
Um inquietante e continuo
sussurro...
Tudo, tudo a espreitar minhas
palavras
Como um lince
que cassa
De minha alma restaram apenas carcaças
E dos desejos que fiz, quiçá epitáfios
A solidão dos albergues sentida
nos lábios
Ainda a comunicar-nos que tudo
perece
Inda sente-se a mão do tempo que
padece
Enquanto inalamos lentamente e
desapercebidos
A angustia alucinada de suspiros
E a vida que raramente não desperdiçamos!Belém, 26/Set-2013
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