quinta-feira, 27 de março de 2025

A utilização dos recursos didático-tecnológicos na aprendizagem de espanhol na Amazônia: a voz dos alunos do Curso de Letras-Espanhol da Universidade Federal do Pará

 


A utilização dos recursos didático-tecnológicos na aprendizagem de espanhol na Amazônia: a voz dos alunos do Curso de Letras-Espanhol da Universidade Federal do Pará

 

Carlos Cernadas Carrera[1] (UFPA)

José Pessoa do Rêgo Lobo[2] (UFPA)

 

Resumo: As sociedades contemporâneas encontram-se imersas num processo de universalização da informação no qual o uso dos meios eletrônicos é cada vez mais frequente. Neste contexto, resultará adequado incorporar à prática educativa aquelas tecnologias que possam contribuir a melhorar o processo de ensino-aprendizagem. Assim, partindo de postulados de autores como Oxford (1990), Felder e Soloman (1993) e Brown (1994), que indicam que existem múltiplas formas de aprender, a pesquisa que se apresenta tem como objetivo identificar quais são os perfis de aprendizagem de um grupo de alunos do Curso de Letras-Espanhol da Universidade Federal de Pará e, também, as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação que mais utilizam para aprender espanhol, tratando de verificar se existe uma relação direta entre o seu perfil e a tipologia das aplicações que utilizam. Para isso, optou-se, metodologicamente, pelos princípios da abordagem fenomenológica, considerando os postulados de autores como Schütz (1993), Berger e Luckmann (1993) e Husserl (2001), utilizando instrumentos de obtenção de informações de natureza qualitativa e quantitativa. Os resultados preliminares indicam que o equilíbrio caracteriza o perfil de aprendizagem deste grupo de informantes e, também, que utilizam um elevadíssimo número de aplicações para aprender espanhol de forma autónoma.

 Palavras-chave: Ensino do espanhol. Estilos de aprendizagem. TDICs.

 

Introdução

As profundas transformações pelas que transitou a humanidade nas últimas décadas têm como origem o declive da sociedade industrial e a chegada da atual sociedade da informação, na que o uso dos meios electrónicos e da tecnologia de comunicação audiovisual (computadores, internet, telefonia inteligente, mensageria instantânea, redes sociais e demais aplicações tecnológicas) é cada vez mais frequente.

Já nos últimos anos do século passado, Stahl (1997) vaticinou que uma parte da educação no futuro ocorreria em espaços criados pela combinação de computadores e telecomunicações. Esta afirmação pode ser constatada atualmente, pois o ensino remoto e a utilização de recursos didático-tecnológicos acabaram de adquirir uma presença notória no processo de ensino-aprendizagem devido ao contexto derivado da pandemia do COVID-19.

Assim, no âmbito educativo, as novas tecnologias estão contribuindo a gerar uma série de mudanças, oferecendo interessantes possibilidades aos docentes, viabilizando o acesso a novos conteúdos, permitindo o desenvolvimento de outras habilidades, de outros modos de pensar, e reformulando as funções que professores e alunos devem desempenhar no processo.

Esta revolução tecnológica está supondo um novo paradigma, caracterizado pelos novos modos de aceder à informação e de produzir conhecimento. Contudo, é recomendável que para a revisão do modelo pedagógico se continuem buscando caminhos que permitam formar indivíduos intelectual e humanamente competentes e bem formados, capazes de aceitar desafios, de construir e reconstruir teorias, de discutir hipóteses e de confrontá-las com o real (MORAES, 1997).

Portanto, faz-se necessário refletir sobre a prática pedagógica com relação ao uso de novos recursos didático-tecnológicos, considerando a importância dos avanços científicos no mundo atual, dado que esta transformação também deve significar um novo modo de perceber a prática pedagógica.

 

1.                             Os recursos tecnológicos como ferramenta didática no ensino de línguas adicionais

         Considerando o contexto que acabou de ser descrito, é importante perceber que os estudantes desenvolvem, principalmente fora dos muros das instituições de ensino, a habilidade de interagir de modo rápido e efetivo mediante os múltiplos recursos tecnológicos que permeiam a sociedade atual, que também permitem aceder ao saber de forma diversificada. Esta circunstância demanda dos docentes modos mais eficientes de utilizar a tecnologia no processo de ensino-aprendizagem, pois os alunos continuam construindo o seu repertório linguístico a partir de práticas de leitura e produção escrita em formato impresso, mas, cada vez mais, em formato digital, tanto a nível pessoal como profissional. Assim, os sistemas de ensino necessitam transformar-se e adaptar-se a estas mudanças para satisfazer as demandas que exigem aprender de um modo diferente.

Conforme explica Correa (2010), numa classe de língua adicional no passado era suficiente que o professor dominasse a língua meta. Contudo, hoje em dia a realidade é substancialmente diferente. Assim, os docentes devem considerar que agora existe uma infinidade de recursos tecnológicos que podem contribuir para que os alunos pratiquem a língua meta, potenciando a sua motivação, proporcionando novas formas de aprendizagem e propiciando a autoaprendizagem.

Partindo do postulado de que a maior parte dos estudantes pertence à geração dos nativos digitais, ao trabalhar com eles recursos tecnológicos na sala de aula é possível contribuir para que a aprendizagem de línguas adicionais não se limite ao âmbito académico, senão que os alunos possam perceber que essa língua que estão estudando também pode fazer parte da sua realidade extraescolar.    

Agora bem, independentemente do contexto atual ou futuro, é necessário ressaltar o inadequado de transformar ao professor num tecnófilo que apela às inovações tecnológicas para resolver todos os problemas que possam aparecer no processo. O docente deve aprender a selecionar aqueles recursos didático-digitais que realmente favoreçam, sabendo se posiciona no que diz respeito a eles e considerando aqueles que se adaptem de melhor modo ao estilo de aprendizagem dos estudantes.

Dentro dos diferentes recursos didático-tecnológicos que podem ser utilizados no processo de ensino-aprendizagem pelo docente, resulta oportuno manifestar que a investigação que aqui se apresenta centra a sua atenção nas denominadas Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) que, conforme Coll e Monereo (2008), são o resultado da incorporação da linguagem digital aos recursos didático-tecnológicos, o que permitiu que qualquer dado possa ser transformado em linguagem binário, de zeros e uns. Deste modo, toda imagem ou texto é susceptível de ser representado na tela de qualquer dispositivo digital.

 

2.                         Diferentes estilos de aprendizaje

         Iniciando a reflexão sobre o modo em que se aprende, resulta pertinente partir da ideia de que, historicamente, as metodologias do ensino entendiam que o indivíduo, quando aprende, parte de um estilo de aprendizagem básico e comum à coletividade (WILLING, 1980 apud TYACKE, 1998). Contudo, diferentes estudos posteriores (FELDER, SOLOMAN, 1993; BROWN, 1994; OXFORD, 1990) indicam que existem múltiplas formas de aprender.

Estes diversos estilos de aprendizagem, em opinião de Brown (1994), seriam traços cognitivos, afetivos e fisiológicos relativamente estáveis que explicariam a forma em que os indivíduos adquirem o conhecimento. Portanto, se existem diferentes perfis de aprendentes percebe-se lógico concluir que, em função do estilo de aprendizagem do aluno, haverá determinadas TDICs que resultarão mais eficazes para determinados perfis. Refletir sobre esta relação abre um interessante campo de estudo, também no ensino de línguas adicionais.

Aprofundando nesta ideia, e analisando o papel do docente neste contexto, no quotidiano da prática pedagógica nem sempre se utilizam TDICs suficientemente variadas. Pesquisas realizadas no Curso de Letras-Espanhol da Universidade Federal de Pará (UFPA), objeto de estudo deste trabalho, recolhem numerosas afirmações de alunos com manifestações muito específicas informando que em poucas ocasiões se utilizam, em sala de aula, TDICs diversificadas, realidade que contribui a limitar a eficácia do processo de ensino-aprendizagem. O seguinte testemunho de um aluno do curso ilustra esta situação:


Os recursos tecnológicos são essenciais para desenvolver o processo de ensino-aprendizagem em qualquer curso universitário e mais especificamente nos cursos de línguas estrangeiras. Existem recursos tecnológicos específicos para trabalhar as músicas, os vídeos, as diferentes situações comunicativas, existem as redes sociais que permitem a comunicação com pessoas do mundo todo. No nosso curso são poucos explorados. (CERNADAS, 2014, p. 316).

Neste comentário aprecia-se uma crítica do estudante com relação à variedade dos recursos didático-tecnológicos empregados pelo professor. A causa desta pouca diversidade pode dever-se a decisões do docente, mas também a própria instituição pode ser corresponsável desta situação por não dispor de recursos suficientemente diversificados, ou por não dotar às suas instalações das condições necessárias para que sejam utilizadas pelo professor. Esta limitação na diversidade de utilização de TDICs na formação inicial dos alunos pode comprometer a sua capacidade para enfrentar adequadamente as futuras demandas profissionais do sector educativo do seu contexto social. Assim, esta é uma questão a ser considerada, mais ainda no atual contexto de avanços tecnológicos constantes.

Partindo da contextualização teórica exposta até aqui, é necessário mencionar que a pesquisa que se apresenta tem como propósito realizar um diagnóstico da situação que vive o Curso de Letras-Espanhol da UFPA com relação à utilização das TDICs no processo de ensino-aprendizagem. Com este fim, está sendo implementado um conjunto de procedimentos metodológicos que permitiram obter alguns primeiros dados de cuja análise surgiram os primeiros resultados e conclusões. A seguir, detalha-se esta dinâmica.

 

3.                             A voz dos alunos do Curso de Letras-Espanhol da Universidade Federal do Pará

             Como acabou de ser mencionado, a finalidade deste trabalho é analisar a utilização das TDICs no Curso de Letras-Espanhol da UFPA. Para tal, optou-se, metodologicamente, por trabalhar com os princípios da abordagem fenomenológica (SCHÜTZ, 1993; BERGER, LUCKMANN, 1993; HUSSERL, 2001), de natureza qualitativa e quantitativa, procedimentos que não são excludentes senão complementares, partindo do postulado de que o pluralismo na obtenção de informação permite conseguir percepções difíceis de alcançar mediante a adopção de um único caminho, pois possibilita materializar a triangulação de sujeitos e procedimentos com o intuito de minimizar possíveis desvios.

A pesquisa está contando com a colaboração de um total de 49 alunos do Curso de Letras-Espanhol que responderam, até este momento, a dois questionários. O primeiro deles teve como propósito determinar quais são os estilos de aprendizagem dos alunos do curso. Para isso, decidiu-se utilizar um questionário elaborado por Felder e Soloman (1993) que consta de 44 perguntas com opção de dupla resposta, A ou B, e considera quatro escalas de aprendizagem, cada escala dividida em duas dimensões: escala ativo-reflexiva segundo a maneira de processar a informação, escala sensitivo-intuitiva conforme o tipo de informação que se percebe de melhor modo, escala visual-verbal em função da maneira em que a informação é percebida e escala sequencial-global segundo a sistemática seguida para a compreensão da informação. No teste, cada uma destas quatro escalas contém 11 perguntas. Para obter a pontuação em cada uma das escalas primeiro são somadas as respostas da dimensão A e as da dimensão B, depois, subtrai-se o número menor do maior e o resultado é acompanhado da letra da dimensão que obteve maior número de respostas.

As respostas com letra A correspondem à primeira dimensão de cada uma das quatro escalas, enquanto que as respostas com letra B correspondem à segunda dimensão. Se o aprendente obtém uma pontuação de 1 a 3 numa das escalas indica que existe um verdadeiro equilíbrio entre as duas dimensões e, portanto, o aluno pode aprender com métodos de ensino que favoreçam ambas as dimensões. Um resultado de 5 a 7 indica a existência de uma certa preferência por uma das dimensões da escala. A obtenção de um resultado de 9 a 11 indica uma forte preferência por uma das dimensões e que o sujeito apresentará problemas para aprender com propostas metodológicas que não contemplem essa dimensão.

Apresentam-se, a seguir, quatro figuras, uma para cada escala, contemplando as duas dimensões e as respostas dos informantes representadas em percentuais:

 


Fuente: Questionário 1

 

Fonte: Questionário 1

Fonte: Questionário 1

 

Fonte: Questionário 1

Estas quatro figuras registram o estilo de aprendizagem dos alunos do Curso de Letras-Espanhol da UFPA participantes da investigação. Os dados obtidos apontam uma marcada tendência ao equilíbrio e à moderação entre as duas dimensões de cada uma das diferentes escalas, em média 60%, e muito baixas percentagens que possam comprovar uma forte preferência por uma das duas dimensões das escalas entre os informantes. A seguir, apresenta-se a figura 5, na qual os dados obtidos aparecem agrupados:

 

 FIGURA 5: Resultados agrupados

 

PERFIS DE APRENDIZAGEM

ESCALAS

Equilibrado

Moderado

Forte

ativo - reflexivo

62%

38%

0%

racional - intuitivo

46%

50%

4%

visual - verbal

60%

28%

12%

sequencial - global

60%

40%

0%

Fonte: Questionário 1

Ao analisar, em detalhe, os resultados obtidos no Questionário 1, observa-se que predominam, robustamente, os perfis equilibrados e moderados, que por definição compreendem capacidades polivalentes de aprender referentes às diversas escalas, totalizando 84% dos informantes. Pensando nesse perfil predominante, os docentes poderão favorecer a utilização de variadas TDICs como recursos didático-pedagógicos tendo uma maior segurança de estar a atender adequadamente as demandas de aprendizagem dessa generalidade de alunos.

Por outro lado, o professor também deve ser consciente de que existe um minoritário número alunos, 16% deles, que apresentam um forte predomínio de alguma das dimensões das diferentes escalas. Concretamente, na escala visual-verbal, 8% dos aprendentes apresentam um forte predomínio da dimensão verbal e 4% da visual, e na escala racional-intuitivo, 4% dos informantes apresenta um forte predomínio da dimensão racional.

Percebe-se que esta minoria de alunos, por apresentar um perfil de aprendizagem forte somente em alguma das dimensões, também poderão aprender eficazmente mediante a utilização de TDICs diversificadas. Contudo, e sem esquecer que o quadro geral maioritário atende ao perfil de aprendente equilibrado moderado, o docente deve estar atento à singularidade deste segmento minoritário, podendo propor atividades para trabalhar os conteúdos de forma dirigida a estes perfis, como forma de proporcionar maiores e melhores possibilidades de aprendizagem à totalidade dos alunos do grupo.

Depois de definir o estilo de aprendizagem do grupo de informantes, e dando prosseguimento à pesquisa, considerou-se adequado averiguar os tipos de TDICs que utilizam para aprender espanhol. Para isso, elaborou-se um questionário na plataforma Google Forms para que os informantes mencionassem os nomes das aplicações que utilizavam, citando as suas principais características. Apresentam-se, a seguir, os resultados obtidos da aplicação deste segundo questionário:

Fonte: Questionário 2

 Como pode ser percebido, a aplicação Duolingo destaca, com diferença, como a mais utilizada pelos estudantes, pois 35% deles a menciona como a TDIC que mais emprega para aprender espanhol. Os alunos a descrevem como muito fácil de utilizar, bem estruturada, organizada e que permite o trabalho com a memorização e com o elemento lúdico, que apresenta atividades de repetição, tradução, oralidade e associação para o trabalho tanto da gramática como do léxico, tudo isso facilitado por uma interface singela de entender e utilizar.

No entanto, é imprescindível indicar que os informantes mencionam que utilizam, ademais, uma plêiade de outras 52 aplicações para aprender espanhol, o que representa uma cifra realmente elevada se considerarmos o universo de 49 informantes. Especificamente, 85,71% deles afirma que utiliza Duolingo, 14,28% Youtube, 10,20% Instagram, 8,16% Reverso Context, 6,12% Babel, e 6,12% Beelinguapp. Ademais, 4,08% menciona as aplicações Animaker, Facebook, Hellotalk, Kahoot, Lvooks, Mosalingua, Netflix, Spotify, Tandem, Telegram, Tik tok e 71,42% aponta outras aplicações diferentes das anteriores.

Depois de aplicar esses dois questionários, e já numa terceira etapa desta pesquisa ainda não realizada, será verificada a possível existência de uma relação direta entre os diferentes estilos de aprendizagem dos alunos do Curso de Letras-Espanhol e as TDICs mais utilizadas por eles, com o fim de determinar quais seriam as mais apropriadas para serem incorporadas ao processo com o objetivo de melhorar a sua eficácia.

 Para isso, confeccionou-se um terceiro questionário no qual se apresentará aos informantes uma lista com as cinco aplicações mais mencionadas: Duolingo, Youtube, Instagram, Reverso Context, Babbel e Beelinguapp, permitindo-se, ademais, a possibilidade de que o aluno possa acrescentar a esta lista outra aplicação que utilize e não conste, se desejar. Para cada uma das aplicações aparecem um total de 12 características para que os informantes apontem quais identificam, e em que grau, com a TDIC.

A lista de características tem relação com os estilos de aprendizagem. Por isso, espera-se que as respostas a este terceiro questionário permitam determinar se existe uma relação direta entre o perfil médio dos aprendentes do grupo e o tipo de TDICs utilizadas. Isso possibilitará que o professor consiga identificar as aplicações que podem ter uma melhor acolhida, o que permitirá maiores possibilidades de melhora da eficácia do processo de ensino-aprendizagem.

 

                   Considerações finais

       Conforme tentou-se explicar no presente texto, as mudanças derivadas do desenvolvimento tecnológico são evidentes nas sociedades contemporâneas, influenciando nelas de uma forma mais direta. A tecnologia, atualmente, consegue alcançar pessoas de diferentes estratos sociais e idades, favorecendo um processo de universalização da informação. No contexto escolar, é necessário potenciar que os alunos trabalhem com esses conhecimentos nas condições mais favoráveis. Neste sentido, o amplo catálogo de novas TDICs disponíveis consegue proporcionar à educação múltiplas perspectivas facilitadoras.

Neste texto tratou-se de explicar que a utilização dos recursos didáticos e as tecnologias constituem uma poderosa ferramenta na prática educativa, evidenciando, também, que a diversidade de uso deste tipo de recursos reverbera na qualidade da aprendizagem dos alunos, devido à existência de diferentes perfis de aprendentes. Assim, é necessário dispor de docentes tecnologicamente formados para o uso contínuo e sistematizado dos recursos tecnológicos, professores que sintam segurança quando os utilizem e que percebam as vantagens que podem proporcionar ao processo, relacionando esses recursos com o modo em que os seus alunos aprendem.

O objetivo principal desta pesquisa está sendo analisar como se desenvolvem as práticas docentes na dimensão da utilização dos recursos didático-tecnológicos no ensino de espanhol no contexto da Amazônia brasileira, especificamente no Curso de Letras-Espanhol da Universidade Federal de Pará, tendo como referência a utilização das TDICs por parte dos professores e a sua repercussão na aprendizagem dos alunos, destacando que os resultados obtidos da execução desta pesquisa poderão contribuir ao conhecimento da realidade do ensino de língua espanhola no âmbito analisado. A investigação está tratando de dar visibilidade, num primeiro momento, ao modo em que os alunos aprendem. Assim, a reflexão está tratando de determinar o tipo de perfil de aprendentes do Curso e as TDICs que mais utilizam.

Os dados obtidos da aplicação dos questionários parecem indicar que o equilíbrio e a moderação caracterizam o estilo de aprendizagem do grupo de alunos informantes. Portanto, como foi apontado, será recomendável que o professor selecione para utilizar no processo de ensino-aprendizagem aquelas opções metodológicas que permitam trabalhar com os diferentes perfis de aprendentes de forma harmónica, pois, desse modo, a assimilação dos conteúdos pelos os alunos poderá ter mais possibilidades de sucesso.

Como também ficou registado, os informantes manifestaram, em massa, utilizar a aplicação Duolingo para aprender espanhol fora dos muros da Universidade, pelo que é recomendado que o professorado do Curso analise a possibilidade de incorporar esta aplicação como recurso didático em sala de aula. Ademais, é necessário indicar que os informantes também mencionam um elevadíssimo número de outras aplicações que utilizam, além dessa, para aprender espanhol. Com estes dados, não parece adequado demandar que o docente conheça todas essas TDICs existentes nem, muito menos, que domine a sua utilização. Contudo, o conhecer as aplicações mais utilizadas pelos alunos poderia ser beneficioso para perceber de que modo estão aprendendo extramuros e, assim, poder incorporar algumas dessas TDICs ao processo.

Apesar de todo o apresentado referente à importância do uso das TDICs no processo de ensino-aprendizagem, e como últimas reflexões, considera-se necessário destacar, primeiro, que a tecnologia não deve ser considerada como elemento substitutivo do trabalho docente, senão ser compreendida como um elemento facilitador do processo de ensino-aprendizagem, cuja importância reside em contribuir a clarificar e aumentar o conhecimento, constituindo uma ferramenta de auxílio para o professor. Em segundo lugar, é preciso lembrar que o processo está conformado por várias dimensões (planejamento, conteúdo, metodologia, recursos didáticos e avaliação, ademais das condições de infraestrutura dos espaços de aprendizagem e da relação entre professor e alunos) e, portanto, é necessário que o docente conceda uma importância homogênea a todas elas, pois a eficácia do processo pode ser menor se estas dimensões são trabalhadas de maneira não equilibrada.

Portanto, ainda que utilizar as TDICs não garante, automaticamente, o sucesso de um processo que está baseado na combinação de diferentes dimensões, e não unicamente em empregar um determinado recurso tecnológico, é necessário destacar, novamente, que a utilização de TDICs diversificadas incrementa as possibilidades de que o processo de ensino-aprendizagem seja mais proveitoso para os sujeitos nele implicados, mais ainda se em sua seleção é considerado o perfil de aprendizagem dos alunos.

 

Referências

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COLL, Cesar; MONEREO, Charles. Educación y Aprendizaje en el siglo XXI: nuevas herramientas, nuevos escenarios, nuevas finalidades. In: COLL, César y MONEREO Carlos (Eds.). Psicología de la Educación Virtual: aprender y enseñar con las tecnologías de la información y la comunicación. Madrid, 2008.

CORREA, Hugo Jesús. 2009 y el aula de español. In: XVII Seminario de dificultades específicas de la enseñanza del español a lusohablantes. Las nuevas metodologías y sus aplicaciones didácticas. Brasilia: Consejería de Educación de la Embajada de España, 2010.

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HUSSERL, E. Invitación a la fenomenología. Barcelona: Paidós, 2001. 

MORAES, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente. Campinas: Papirus, 1997.

OXFORD, Rebecca. Language learning strategies: what every teacher should know. Book. Published Boston, Mass.: Heinle & Heinle, 1990.

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TYACKE, Marian. Learning style diversity and the reading class: curriculum design and assessment. In: Reid, J (Ed.) Understanding Learning Styles in the Second Language Classroom. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall Regents, 1998, p 34–45.



[1] Carlos Cernadas Carrera. Doutor em Letras – Estudos da Linguagem. Universidade Federal do Pará. E-mail: carloscernadascarrera@gmail.com.

[2] José Pessôa do Rêgo Lobo. Graduando em Letras-Espanhol. Universidade Federal do Pará. E-mail: pessoalobo@gmail.com.

Projeto financiado pelo Programa de Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC.